Professor especialista explica origem, sintomas e cuidados com a gripe H1N1
A gripe, também chamada de influenza no Hemisfério Norte, é uma doença de que se tem registros mais precisos há pouco mais de um século.  É causada por vírus, sendo o tipo A um dos mais agressivos, por sua vez, com subtipos de moléculas. Então, a denominação daquele que agora mais nos preocupa: o  AH1N1.
É uma doença de início súbito, com incubação de 3 a 7 dias após contágio com alguém infectado, por via respiratória e por outros meios nem sempre percebidos. Os vírions são criaturas mínimas que medem poucos nanogramas e agridem as células mucosas do aparelho respiratório, desde a nasal até os alvéolos pulmonares, provocando as defesas locais e gerais do organismo.
Febre, calafrios, coriza, tosse, dores musculares, cefaleia, mal estar geral são os sintomas iniciais e, em sequência, bronquites, asmas, otites  e, quando mais graves, pneumonias. Estas são as complicações mais temíveis e certamente as responsáveis por maiores índices de mortalidade. Acontecem predominantemente naqueles que, pelas condições de idade, crianças e idosos, ou por patologias associadas pré-existentes têm reduzidas as suas competências de defesa.
A humanidade está apta a conter os vírus gripais produzindo sempre anticorpos bloqueadores de seus vírions. Mesmo assim, estes têm uma notável capacidade de mudar habilidosamente sua própria composição molecular iludindo nossas defesas e provocando surtos mais graves de moléstias, tanto em extensão  geográfica e populacional quanto na intensidade do quadro clínico. Este confronto permanente entre os dois ciclos biológicos, o dos vírus e o de nossas defesas, permite uma alternativa de ataque e defesa permanente que explica a sequência repetitiva de surtos regulares e anuais do processo gripal que predomina no outono e inverno.
A ruptura desse equilíbrio, por modificação molecular do vírus ou por cochilo de nossas defesas, provoca os surtos epidêmicos que aconteceram algumas vezes neste último século. A mais grave de todas as epidemias gripais de que se tem notícia, uma pandemia, foi a de 1918/19 denominada espanhola, que levou dois anos circulando o planeta e matou milhões de pessoas, num total impossível de precisar. O vírus H1N1, que a gerou, certamente alcançou tamanha agressividade porque surpreendeu uma humanidade estressada pela 1ª Guerra Mundial que exauriu as defesas dos europeus, os primeiros a serem vitimados.
Desde então, registramos alguns surtos importantes, como a asiática de 1957, com origem na China, também pandêmica, chegando a acometer metade da população mundial com estimativas de morte em número de 70 mil. Mais recente e também importante foi a aviária, originada no sudeste asiático, em 2004. Embora tenha havido registros pontuais de alguns casos em cidades americanas e europeias, sua gravidade e extensão  ficou delimitada a região de origem.
A atual chamada de suína, porque originária de pontos da suinocultura no sul do México, tem quadro clínico já bem definido que não difere muito em tempo de duração e em manifestações clínicas daqueles próprios de surtos gripais que registramos anualmente no outono e inverno. Seus índices de letalidade, não superiores a 0,5% de mortes, certamente são iguais ou inferiores aos habituais da gripe comum. Vez por outra, o noticiário nos informa correntemente que os casos mortais têm acontecido predominantemente em pessoas já problemáticas em seus sistemas de defesas.
Outro enfoque que nos preocupa é a proveniência animal do atual vírus em causa. Lembramos, porém, que em 1967 houve um surto gripal nos EUA também de origem suína que ficou limitado à região de origem com um mínimo de letalidade. Estes destaques somados às características que vêm apresentando o atual surto, e porque não também a competência com que foi habilmente delimitada  a gripe aviária de 2004, somam-se no sentido de confiarmos em nossos recursos perante o atual agressor. Lembramos também em reforço otimista, que a gripe espanhola de 1918 matou milhões de pessoas porque não dispúnhamos, então, de antibióticos  que tem um enorme poder de combate às bactérias que provocam pneumonias em associação aos vírus.
Na Faculdade de Medicina da USP, o professor Ludgero da Cunha Mota nos contava em aula, nos anos 49/50, ter autopsiado centenas de mortos da epidemia de 1918 que aqui grassou intensa e tragicamente. Quase todos haviam sucumbido por broncopneumonia, que, 20 anos depois teria tido brilhante solução ante a penicilina de Alexander Flemming. Nossos recursos hoje são incomparavelmente mais competentes do que então. Temos vacinas, temos antigripais mais poderosos, temos antibióticos e uma tecnologia diagnóstica e terapêutica cada dia mais competentes. E temos, também, uma cultura epidemiológica que nos permite delimitar a extensão geográfica e populacional dos surtos.
Vamos confiar!
Cassio Ravaglia, ex professor  da PUC  de Sorocaba e da UEL, é doutor e professor em Clínica Médica pela FMUSP
Professor especialista explica origem, sintomas e cuidados com a gripe H1N1

A gripe, também chamada de influenza no Hemisfério Norte, é uma doença de que se tem registros mais precisos há pouco mais de um século.  É causada por vírus, sendo o tipo A um dos mais agressivos, por sua vez, com subtipos de moléculas. Então, a denominação daquele que agora mais nos preocupa: o  AH1N1.

É uma doença de início súbito, com incubação de 3 a 7 dias após contágio com alguém infectado, por via respiratória e por outros meios nem sempre percebidos. Os vírions são criaturas mínimas que medem poucos nanogramas e agridem as células mucosas do aparelho respiratório, desde a nasal até os alvéolos pulmonares, provocando as defesas locais e gerais do organismo.

Febre, calafrios, coriza, tosse, dores musculares, cefaleia, mal estar geral são os sintomas iniciais e, em sequência, bronquites, asmas, otites  e, quando mais graves, pneumonias. Estas são as complicações mais temíveis e certamente as responsáveis por maiores índices de mortalidade. Acontecem predominantemente naqueles que, pelas condições de idade, crianças e idosos, ou por patologias associadas pré-existentes têm reduzidas as suas competências de defesa.

A humanidade está apta a conter os vírus gripais produzindo sempre anticorpos bloqueadores de seus vírions. Mesmo assim, estes têm uma notável capacidade de mudar habilidosamente sua própria composição molecular iludindo nossas defesas e provocando surtos mais graves de moléstias, tanto em extensão  geográfica e populacional quanto na intensidade do quadro clínico. Este confronto permanente entre os dois ciclos biológicos, o dos vírus e o de nossas defesas, permite uma alternativa de ataque e defesa permanente que explica a sequência repetitiva de surtos regulares e anuais do processo gripal que predomina no outono e inverno.

A ruptura desse equilíbrio, por modificação molecular do vírus ou por cochilo de nossas defesas, provoca os surtos epidêmicos que aconteceram algumas vezes neste último século. A mais grave de todas as epidemias gripais de que se tem notícia, uma pandemia, foi a de 1918/19 denominada espanhola, que levou dois anos circulando o planeta e matou milhões de pessoas, num total impossível de precisar. O vírus H1N1, que a gerou, certamente alcançou tamanha agressividade porque surpreendeu uma humanidade estressada pela 1ª Guerra Mundial que exauriu as defesas dos europeus, os primeiros a serem vitimados.

Desde então, registramos alguns surtos importantes, como a asiática de 1957, com origem na China, também pandêmica, chegando a acometer metade da população mundial com estimativas de morte em número de 70 mil. Mais recente e também importante foi a aviária, originada no sudeste asiático, em 2004. Embora tenha havido registros pontuais de alguns casos em cidades americanas e europeias, sua gravidade e extensão  ficou delimitada a região de origem.

A atual chamada de suína, porque originária de pontos da suinocultura no sul do México, tem quadro clínico já bem definido que não difere muito em tempo de duração e em manifestações clínicas daqueles próprios de surtos gripais que registramos anualmente no outono e inverno. Seus índices de letalidade, não superiores a 0,5% de mortes, certamente são iguais ou inferiores aos habituais da gripe comum. Vez por outra, o noticiário nos informa correntemente que os casos mortais têm acontecido predominantemente em pessoas já problemáticas em seus sistemas de defesas.

Outro enfoque que nos preocupa é a proveniência animal do atual vírus em causa. Lembramos, porém, que em 1967 houve um surto gripal nos EUA também de origem suína que ficou limitado à região de origem com um mínimo de letalidade. Estes destaques somados às características que vêm apresentando o atual surto, e porque não também a competência com que foi habilmente delimitada  a gripe aviária de 2004, somam-se no sentido de confiarmos em nossos recursos perante o atual agressor.

Lembramos também em reforço otimista, que a gripe espanhola de 1918 matou milhões de pessoas porque não dispúnhamos, então, de antibióticos  que tem um enorme poder de combate às bactérias que provocam pneumonias em associação aos vírus.

Na Faculdade de Medicina da USP, o professor Ludgero da Cunha Mota nos contava em aula, nos anos 49/50, ter autopsiado centenas de mortos da epidemia de 1918 que aqui grassou intensa e tragicamente.

Quase todos haviam sucumbido por broncopneumonia, que, 20 anos depois teria tido brilhante solução ante a penicilina de Alexander Flemming. Nossos recursos hoje são incomparavelmente mais competentes do que então. Temos vacinas, temos antigripais mais poderosos, temos antibióticos e uma tecnologia diagnóstica e terapêutica cada dia mais competentes. E temos, também, uma cultura epidemiológica que nos permite delimitar a extensão geográfica e populacional dos surtos.

Vamos confiar!

Cassio Ravaglia, ex professor  da PUC  de Sorocaba e da UEL, é doutor e professor em Clínica Médica pela FMUSP