Vitória do projeto de crescimento econômico com inclusão social
Vagner Freitas, presidente Nacional da CUT
A campanha de 2014 foi uma das mais duras e disputadas desde a redemocratização do Brasil, em 1985. O PT e a presidenta Dilma Rousseff foram ferozmente atacados, em especial por meio de perfis falsos e a contratação de robôs para atuar nas redes sociais. A mídia convencional fez o jogo do mentiroso ofendido e deu destaque às acusações do candidato tucano, de que era o PT que fazia uma ‘campanha sórdida’, cheia de mentiras. Por mentira, leia-se: fatos comprovados, como o caso do aeroporto de Cláudio, construído no terreno da fazenda de um tio do ex-governador Aécio Neves - o tio ficava com as chaves do aeroporto -, o nepotismo e a transferência de recursos público para as rádios da família Neves, autorizadas pela irmã do candidato. As mentiras, os boatos e as tentativas de golpe foram, na verdade, patrocinadas pelo PSDB. Entre elas, o boato de que doleiro-delator, Alberto Youssef, havia sido envenenado por petistas e a capa combinada com a revista Veja às vésperas da eleição, com a falsa acusação de que Lula e Dilma sabiam da corrupção na Petrobras, que quase mudaram o resultado final do pleito.
Como nos últimos doze anos, o roteiro de ataques ao projeto democrático e popular escolhido pelo povo foi seguido à risca durante o processo eleitoral. O mote principal dos oposicionistas é a conhecida campanha moralista e difamatória, encampada por parte da classe média e da grande imprensa, que tratam as gestões petistas como se fossem as criadoras da corrupção e, não, os governos que mais contribuíram para combater esse mal que assola o Brasil há mais de 500 anos. As gestões de Lula e Dilma criaram o Portal da Transparência, lei da compra de votos, lei da ficha limpa, lei geral de acesso à informação, lei de conflitos de interesse, lei de responsabilização da pessoa jurídica, abertura do voto na apreciação de vetos e de cassação de mandatos. Isso sem contar na liberdade da Polícia Federal e do Ministério Público para investigar e encaminhar os processos à Justiça que passou a punir como nunca antes na nossa história.
Virando o jogo
O que garantiu a vitória da presidenta Dilma foi a união dos movimentos social e sindical que ocuparam diuturnamente as redes sociais para combater as mentiras e foram às ruas defender o projeto, reafirmando o apoio as políticas de valorização do salário mínimo, das aposentadorias, da agricultura familiar e da geração de emprego, das políticas públicas como Minha Casa, Minha Vida, Pronatec, ProUni, Ciências Sem Fronteiras, que dá jovens a oportunidade de estudar no exterior, construção de novas universidades federais; e os investimentos em infraestrutura, urbanização das favelas, entre outros.
Agora, nossa tarefa é construir uma pauta unificada que contemple uma política econômica voltada para o desenvolvimento sustentável do Brasil, com inclusão, justiça social e distribuição de renda, que fortaleça políticas públicas nas áreas de segurança, saúde e educação, fundamentalmente. Temos de ocupar as ruas para dar sustentação à presidenta para que as reformas política, tributária e dos meios de comunicação sejam feitas e entrem em vigor imediatamente.
Engana-se quem pensa que essa será uma tarefa fácil. A presidenta Dilma venceu, mas o governo continua sendo disputado por setores progressistas e conservadores de uma sociedade que elegeu uma das bancadas mais resistentes a mudanças da história no Congresso Nacional - mais da metade (51%) dos 513 deputados são ruralistas ou apoiados por empresas do setor. E um parlamento mais à direita, que representa os direitos dos empresários e banqueiros que bancaram suas milionárias campanhas eleitorais, vai trabalhar contra a pauta dos/as trabalhadores/as e fazer de tudo para impedir avanços e conquistas como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário e a regulamentação da Convenção 158 da OIT, que estabelece o princípio da negociação coletiva entre trabalhadores públicos e os governos das três esferas, entre outros itens da pauta. Na primeira semana após as eleições, o Congresso já deu sinais claros de que a luta pelos avanços precisa ser ainda mais organizada. A derrubada do decreto da presidenta Dilma que criou a Política Nacional de Participação Social é um ataque à democracia participativa.
A eleição acabou e o resultado das urnas tem de ser respeitado. O clima de disputa que a direita vem tentando manter nas ruas é antidemocrático. É mais uma tentativa de liderar uma agenda conservadora em prejuízo do Brasil e dos brasileiros. A pauta progressista que venceu as eleições é a nossa.
Neste sentido, a reflexão que temos de fazer é óbvia: para os movimentos sindical e social, eleger Dilma foi fundamental para continuar o processo de transformação do País, mas esse foi apenas mais um passo. A disputa agora é pela pauta dos trabalhadores, dos sem teto, sem terra, dos negros, das mulheres e dos jovens.