No ensino superior, a líder do mercado olha marcas fortes nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
Por Cynthia Malta e Beth Kolke - Jornal Valor Econômico
Maior companhia de ensino superior privado do país, a Kroton está analisando o mercado de escolas de ensino médio para possíveis aquisições. "Estamos estudando, mas não temos ainda uma conclusão", disse Rodrigo Galindo, presidente da Kroton, ao Valor.
A Kroton tem apenas uma escola própria com a bandeira Pitágoras, em Belo Horizonte. Trata-se de um colégio conceituado, que atende desde o berçário até o ensino médio, voltado a alunos de classe média alta. Essa unidade serve como um "laboratório" para a companhia acompanhar de perto como funciona a educação básica.
A ligação da Kroton com a educação básica ocorre por meio dessa escola e do sistema de ensino Pitágoras material didático distribuído para 290 mil alunos de 87 0 escolas do país. No ano passado, esse braço de negócio cresceu 20,5% e atingiu faturamento de R$ 206,4 milhões. Representa cerca de 5% da receita total da Kroton.
"Nós gostamos desse negócio [do Pitágoras] e, agora, estamos medindo taxa de retorno de escolas", diz Galindo. A origem da Kroton se deu em 1966 com a criação do curso pré-vestibular Pitágoras por cinco jovens, entre eles o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia.
Os estudos sobre o mercado de colégios estão em fase inicial e podem levar, ou não, a Kroton a aumentar sua presença no setor de ensino médio. "Temos que entender [primeiro] onde este mercado está crescendo", diz Galindo. No ensino superior, ele tem olhar especial para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Após a aquisição da Unopar em 2010, a Kroton passou a focar sua atenção no ensino superior e a fatia da educação básica diminuiu de cerca de 15% para 5% de sua receita. Nesses últimos cinco anos, a Kroton foi muitas vezes assediada para vender o Pitágoras, inclusive, pela concorrente Abril Educação que atua fortemente nos segmentos de apostilas e colégios.
Essa área vem despertando atenção dos investidores que consideram que o próximo boom virá da educação básica. O interesse em colégios do ensino médio é devido ao tíquete médio mais elevado. Em 2013, segundo dados da Hoper, consultoria especializada em educação, as escolas particulares registraram faturamento de cerca de R$ 40 bilhões, um crescimento de 25% em relação a 2011.
A Kroton também está aberta a oportunidades de aquisição no mercado de ensino superior. Os ativos que interessam a Galindo, que já fez 28 aquisições ao longo de sua carreira como gestor de empresas de educação, são "marcas fortes que estejam localizadas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste".
"Fazer aquisições neste ano é uma possibilidade. A gente acha que a consolidação vai acontecer no setor e é bom que aconteça", diz Galindo. "O consolidador tende a aumentar a qualidade do consolidado", explica o executivo, que no ano passado recebeu sinal verde do Cade para a fusão entre Kroton e Anhanguera, criando o maior grupo educacional do país. O caixa da Kroton deve engordar no segundo semestre com a venda da Uniasselvi, exigida pelo Cade para aprovar a fusão. Segundo fontes do setor, é avaliada em cerca de R$ 1 bilhão.
Neste ano, a Kroton vai investir R$ 400 milhões valor próximo ao registrado no ano passado, mas sem considerar eventuais compras de empresas.
Com o encolhimento do Fies, financiamento bancado pelo governo, instituições que não têm escala nem caixa suficientes tendem a tornar-se alvos de compradores. "O mercado ainda vai levar um tempo para perceber as oportunidades", diz Galindo.
A própria Kroton tem 55% de seus alunos de cursos presenciais atrelados a contratos do Fies. A boa notícia, diz Galindo, é que 96% deles já renovaram seus contratos até agora. Os calouros que não conseguiram o Fies foram absorvidos pelo programa de parcelamento de mensalidade da Kroton sistema criado para vigorar só em 2015. "Conseguimos captar 20 mil novos alunos com isso", diz.
Galindo acha que há espaço para melhorar o Fies. Uma ideia seria aumentar os juros. "A taxa de 3,4% ao ano é muito baixa. Poderia ser 6% a 6,5%", diz. O governo também poderia abrir outras opções de contrato em vez de financiar 50% ou 100% da mensalidade como é hoje. Quem tem mais renda, poderia financiar, por exemplo, somente 30% no Fies.
"O governo pode reduzir o subsídio e ter mais alunos no Fies com o mesmo orçamento", diz Galindo, que não trabalha com a hipótese de o Fies ser reaberto no segundo semestre deste ano. "Mas estamos tranquilos", disse. A Kroton já corte ou despesas no primeiro trimestre diante de um cenário de receita menor. "Cancelamos centenas de vagas e desligamos funcionários. O foco maior foi cortar vagas e não pessoas".
O ano de 2015, diz ele, "vai ser bom. Já readequamos a empresa.”