Por Ricardo Paoletti*

As grandes instituições de ensino superior mostram, mais uma vez, que educação hoje em dia no Brasil é um negócio muito bom. Nesta semana, a entidade que representa as escolas divulgou nota reclamando que seus alunos, alarmados com uma suposta crise, estariam atrasando demais as mensalidades. Há atrasos, mas a reclamação não procede: segundo dados das próprias escolas, a inadimplência das grandes empresas educacionais do setor, que teria passado de 6,7% em 2014 para 7,1% em 2015, ainda está abaixo da taxa média de inadimplência no país. A taxa no país, segundo a Serasa Experian, chega a 24,5% da população no país, nos últimos 90 dias.

 Todo negócio embute um risco. Todas as empresas no Brasil estão se adaptando à realidade econômica e sofrer perdas por inadimplência sempre fez parte do jogo. As escolas reclamam que estão sofrendo mas, se de fato sofrem, sofrem menos do que a média dos demais negócios, ultimamente.

 A própria entidade que representa as universidades e faculdades privadas reconhece que o problema não é tão grande assim. O diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, disse ontem ao jornal Folha de S.Paulo que os resultados não chegam a trazer pessimismo para as grandes empresas do setor. "Não alterou um quadro que vem do ano passado." Ele afirma que os grandes grupos educacionais têm maior capacidade que as pequenas empresas para manter os alunos com descontos e bolsas. "O movimento de aquisições está acontecendo entre grandes grupos e a inadimplência acaba penalizando as pequenas e médias instituições, que têm menos mecanismos de cobrança".

 Ou seja: as grandes escolas mostram um desempenho bem melhor que a médias das empresas no Brasil e as instituições menores, com menos de sete mil alunos por unidade, enfrentam problemas porque não seriam bem administradas – uma situação que pode afetar tanto uma padaria de esquina quanto uma fábrica complexa.

 E. na mesma matéria, o jornal completa esse raciocínio: “Mesmo com as restrições no Fies, os grandes grupos educacionais, com capital aberto na bolsa de valores, ampliaram os lucros. Entre 2011 a 2015, a receita bruta das empresas de educação com capital aberto (Kroton Educacional, Anima Educação, Grupo SER Educacional e Estácio) cresceu 328%. O levantamento, divulgado em maio, foi realizado a pedido da Fepesp - Federação dos Professores do Estado de SP pelo professor Oscar Malvessi, da FGV (Fundação Getulio Vargas). O docente utilizou as informações dos balanços financeiros e notas explicativas divulgadas ao mercado pelas empresas. Na sexta-feira (8), os conselhos de administração da Kroton e Estácio assinaram contrato para unir as duas companhias. Os quatro grupos de capital aberto tiveram alta de 7,7% nas matrículas entre 2014 e 2015. Até 2014, as faculdades e universidades desses grupos concentravam 23% de todos os contratos do Fies. No ano passado, o governo federal desembolsou cerca de R$ 14,4 bilhões no programa, que chegou a 2,2 milhões de contratos.”

 Ou seja, não há motivo para reclamação.

*Ricardo Paoletti é jornalista da Fepesp


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