“A produção social da riqueza é a base sobre a qual se assenta o desenvolvimento econômico, resultado daquilo que cada sociedade é capaz de produzir e distribuir. O movimento sindical é uma criação dos trabalhadores que lhes permite atuar, de maneira coletiva e solidária, na disputa sobre o que e como produzir e de que maneira distribuir os resultados” -  Clemente Ganz Lúcio

 

O Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio Econômicas (DIEESE) foi criado por dirigentes sindicais em 1955 para adquirir e quantificar conhecimentos, através de dados e pesquisas, bem como subsidiar e qualificar a luta das classes sociais e dos trabalhadores.

Entre as diversas pesquisas e tabulações produzidas pelo Departamento está o acompanhamento permanente de um painel fixo de 708 Convenções e acordos coletivos da indústria, comércio e serviços. Nesse painel pode-se observar o comportamento dos salários em termos de reposição e de aumentos reais.

O balanço é anual e agora em 2016 o Instituto divulgou o resultado da pesquisa das negociações salariais de 2015. De acordo com Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e diretor técnico do DIEESE, “no ano passado, cerca de 55% das Convenções e acordos coletivos foram celebrados pelos Sindicatos com ganhos salariais”. Foi o caso dos professores e professoras filiados ao SINPRO ABC, que tiveram a reposição da inflação + 2 de aumento real. “Já outras categorias, por exemplo, em torno de 26% conseguiram repor integralmente a inflação do período, mas sem ganho real; e cerca de 19%, concluíram as negociações sem repor integralmente a inflação”, afirma.

Segundo Clemente Lúcio, “há uma mudança nos resultados, se comparados ao período 2005/2014, quando a reposição integral da inflação e os aumentos salariais predominaram em 90% das negociações”. Ele aponta que embora, os números pareçam desfavoráveis aos trabalhadores e ao movimento sindical, “o resultado é coerente com a situação de recessão e de enorme adversidade para o setor produtivo. A contração da atividade econômica afeta a produção e a distribuição da riqueza e da renda”, afirma.

De acordo com o diretor técnico do DIEESE, “ao desmobilizar capacidade produtiva, se gera desemprego e ao contrair resultados da atividade produtiva, se gera queda dos salários”. Para Clemente, “em um contexto de inflação alta, crescem as perdas salariais e a recessão diminui a produção e inibe a capacidade sindical de disputar a distribuição presente dos resultados”.

Nesse contexto de enorme adversidade econômica, os números observados nas negociações coletivas “revelam uma enorme capacidade sindical de resistência, mobilizando na adversidade, construindo acordos salariais coerentes com a atual realidade, ainda mais porque passaram a dar centralidade à busca da preservação dos empregos”, afirma.

Para além das lutas travadas nas campanhas salariais e dos resultados alcançados, o movimento sindical tem clareza de que a mobilização deve buscar a retomada do crescimento econômico por meio do investimento, do crédito e do emprego.

E sociólogo e técnico do DIEESE acredita, que “no curto prazo, deve-se construir cuidadosamente as estratégias considerando-se o contexto de cada setor/categoria, pois há diferença de desempenho econômico, alguns com resultados positivos. A prioridade para proteger os empregos por meio de acordos deve vir acompanhada de ações para pressionar os governos para promover políticas públicas de geração de novas ocupações, bem como de assistência aos desempregados”, afirma Clemente Lúcio.

“É tempo de lutar contra grandes adversidades e os resultados devem ser analisados frente a este contexto. A experiência nos mostra que a qualidade e a força da capacidade sindical crescem e se renovam frente às adversidades. Isso ocorre porque os dirigentes sindicais são lutadores em nome de uma causa coletiva. É no momento de adversidade que a classe trabalhadora redescobre o papel essencial dessa ferramenta que é o Sindicato” - CGL


Mais Lidas