Quando tudo fica quieto demais, em processos que envolvem grandes instituições, direitos, sobrevivência, interesses controversos, é melhor desconfiar. É o que vem ocorrendo com relação às escolas metodistas, depois do fechamento de dois de seus colégios: o de São Bernardo do Campo e o de Ribeirão Preto, no mês passado.
Nestes últimos dias, nota conjunta dos vários sindicatos de professores alertou seus associados ao que vem ocorrendo, inclusive anexando um laudo técnico sobre as incongruências dos números e previsões apresentadas pelos gestores metodistas para buscarem a recuperação judicial. Ainda mais angustiante, a informação contida no documento, a partir de manifestações dos próprios gestores metodistas após a suspensão do processo de recuperação judicial: em petição dirigida ao presidente do STJ informando-o de que dados os efeitos desta decisão, “quatro unidades” teriam suas atividades encerradas. Diante de tal afirmação, os sindicatos concluem como certo que notícias sobre tais iniciativas ainda virão nos próximos dias.
Fica então a pergunta: que segurança, que tranquilidade possuem pais e professores para oferecer a crianças e adolescentes matriculados nos colégios metodistas que ainda se mantém em funcionamento, ainda que docentes e funcionários não recebam há muito salários em dia? Valerá a pena ainda manter crianças e adolescentes nestes colégios, com classes cada vez menores? Restam, ainda, em funcionamento, quatro colégios no Rio Grande do Sul, um em Minas Gerais, e quatro em São Paulo. A se confirmar a intenção dos gestores do fechamento de mais duas unidades, quais delas serão as próximas?
Segundo dados oficiais anexados à Justiça no pedido de recuperação judicial, embora muitas destas unidades tenham sido instituições com centenas de alunos até anos atrás, no segundo semestre de 2021 o número total de matrículas em todos eles chegava a 3.283. Das duas unidades cujas atividades foram encerradas em janeiro passado, o Colégio Metodista de São Bernardo contava, então, com 218 matriculados e o de Ribeirão Preto, com 175. Os mais próximos a estes números eram, então, o Colégio de Passo Fundo com 185 matrículas e o União (Uruguaiana), com 138, ambos ainda em funcionamento. Aquele em melhor situação era o Granbery, de Juiz de Fora, com 687 alunos.
Não se trata de negar a inviabilidade de manutenção de colégios cujo número de alunos por classe sequer é suficiente para pagar os salários dos professores, mas sim da forma como os metodistas vêm agindo no processo de encerramento de suas atividades. Informar pais e alunos do fechamento em vésperas de início do ano letivo? Depois de aceitar matrículas e até cobrar pelo material didático a ser utilizado no semestre? Que tipo de instituição educacional pode fazer isso em sã consciência, sem pensar nos efeitos emocionais e pedagógicos sobre crianças e adolescentes, além do desespero de pais, de professores e funcionários deixados sem emprego e sem pagamento do que lhes é devido num período ainda mais difícil de se conseguir novas colocações?
Em São Bernardo do Campo, depois registrarem boletins de ocorrência sobre o fechamento abrupto do colégio e o valor cobrado por matrículas, pais criaram grupos nas redes sociais. Em muitos desabafos, o que se destaca é a angústia e a indignação pela maneira como foram tratados. Professores relataram telefonemas de alunos, crianças, chorando, “desesperados, incrédulos com o que estava acontecendo”. Famílias se descreveram como tendo sido tratadas como “palhaços” em todo o processo. Muitos falaram em desrespeito, má fé, crueldade.
No entanto, todos, absolutamente todos agradeceram a professores e funcionários, elogiaram o que os filhos haviam vivido no colégio, solidarizaram-se com aqueles que de igual forma haviam sido desconsiderados simplesmente com demissões e nenhuma certeza de receber o que lhes é devido. São manifestações que demonstram claramente que a educação metodista de hoje nada tem a ver com aquela praticada e assumida até alguns anos atrás, comprometida com valores de inclusão, de respeito, de uma prática diferenciada, competente e afetuosa.
Como foi possível que, em tão pouco tempo, gestores que passaram a administrar tais escolas como se fossem fábricas de qualquer mercadoria barata, destruíssem tanto? E quanto a Igreja Metodista será responsabilizada por tudo isso – inclusive as dívidas?
Bia Vicentini, jornalista