O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, teve a sua aula no curso de pós-graduação em ciência política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) interrompida duas vezes nesta segunda-feira (27). Antes de manifestantes do movimento social formado por moradores de Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, invadirem a aula para pedir transporte público para a região, um grupo de alunos do movimento negro Ocupação Preta entrou na sala para discutir a falta de uma política mais efetiva de cotas racias na USP.
Haddad permitiu aos alunos ocuparem a sala e sentarem nas carteiras junto com os alunos de pós-graduação. Os estudantes negros reclamaram das dificuldades do acesso à universidade e da falta de alunos e professores negros na USP. A universidade não faz reserva de vagas, mas adota no seu vestibular, organizado pela Fuvest, uma política de bônus para alunos de escolas públicas que pode chegar a 15% da nota. E mais 5% para os que se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas.
Ministro da Educação no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, Haddad lembrou que o governo federal tem uma política de reserva de vagas para alunos de escolas públicas nas universidades federais. Até 2016 serão 50% das vagas, e dentro desse percentual há uma reserva para alunos pretos, pardos e indígenas.
"A USP está discutindo formas alternativas ao vestibular, uma delas é o Enem", disse Haddad. "Se a USP for adotar o Enem, cada unidade vai poder decidir de que forma utilizar. Vocês poderiam propor à direção que parte das vagas destinadas ao Enem fossem distribuídas de forma proporcional."
Os estudantes argumentaram que não têm acesso às reuniões do Conselho Universitário da USP para discutir formas de ingressos, cotas e reserva de vagas, e que as ideias discutidas excluem a população negra de alunos. Os alunos apresentaram um termo no qual Fernando Haddad reconhece a legitimidade da luta pelas cotas raciais e sociais na USP e convidou o professor a assinar o documento. Haddad aceitou. "Em geral não gosto dessas coisas, mas gostei", disse o prefeito antes de assinar.