Os especialistas que se revezaram na mesa da tarde desta terça-feira (22/9), apresentaram seus estudos sobre a profissionalização dos sistemas educacionais privados, as leis que beneficiam seu crescimento e as vantagens lucrativas obtidas por esses grupos no mercado financeiro.

A professora Cristina Helena Almeida De Carvalho, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), analisou o fenômeno recente de mercantilização das instituições de ensino superior (IES) educação superior brasileira, principalmente a partir de 2007, quando houve um crescimento das IES e a adoção de estratégias de mercado na direção da financeirização, oligopolização e internacionalização – confira a Apresentacao Cristina Helena.

“O objetivo é a maximização da liquidez, mas também a valorização das ações negociadas no mercado. Para isso, usam diversas estratégias como redução de custos, enxugamento no quadro de pessoal, baixos salários demissões dos mais qualificados, precarização das relações de trabalho”, afirmou.

Em sua exposição, o professor Fabio Betioli Contel, do departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), falou das políticas voltadas para a internacionalização das universidades públicas, no Brasil, que ainda estão em fase de construção, se comparado com as instituições europeias e da América Anglo-Saxã – veja Apresentacao Fabio Betioli.

Duas iniciativas recentes do governo federal contribuíram para uma internacionalização mais ampla: a criação das universidades federais voltadas para a cooperação regional, como a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila); e o programa Ciência sem Fronteiras. “São medidas que contribuem para a internacionalização da educação superior no Brasil, com um papel mais ativo, que não fica somente submetido aos interesses dos países do centro (desenvolvidos)”, afirmou.

A pesquisadora e especialista em Economia Política Educativa, Susan Robertson, professora de Sociologia da Educação da Universidade de Bristol, no Reino Unido, falou sobre as diversas formas que as instituições financeiras influenciam nas políticas educativas em nível global e de como os recursos públicos alimentam as corporações de ensino privadas. Ela começou sua explanação lembrando da Declaração Internacional dos Direitos Humanos, de 1948, e questionou: “o que diriam seus criadores neste ano de 2015 olhando para o panorama atual, o que houve de errado que estamos defendendo o direito das corporações?”. (clique aqui para a Apresentacao Susan Robertson)

O professor Gil Vicente Reis de Figueiredo, do Departamento de Matemática da UFSCar e diretor de Relações Internacionais da Proifes-Federação, fez uma abordagem minuciosa sobre os recursos públicos repassados ao setor da educação privada no Brasil, que, em sua análise, vêm crescente de forma exponencial, desde 2010. Ele estima que, em 2016, representem 60% do montante destinado a todas as universidades e institutos federais.

Para ele, o Programa do governo federal Fies, se transformou, entre 2010 e 2014, numa fonte de lucro sem precedentes para o ensino superior privado – com lucros da ordem de 800% para os acionistas das empresas do setor educacional com capital aberto. “É inaceitável politicamente, por não gerar sequer um crescimento importante de matrículas no setor privado e, portanto, não tem contribuído para aumentar o acesso dos jovens ao ensino superior”, afirmou Vicente. (Veja Apresentacao Gil Vicente)

O seminário segue amanhã (23), com duas mesas. A primeira, das 9h às 12h, com os especialistas Lucas da Silva Tasquetto, da PUC-SP; Lalo Watnabe Minto, da Faculdade de Educação da Unicamp; Sam Sellar, da Universidade de Queensland, na Austrália. A segunda mesa, das 14h às 18h, terão os professores Antonio Olmedo, da Universidade de Roehampton, no Reino Unido; e da professora Madalena Guasco Peixoto, da Faculdade de Educação da PUC-SP e coordenadora-geral da Contee.

Deborah Moreira

Imprensa Contee


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