Reforma do Ensino Médio vai atingir principalmente os mais pobres
A reforma do Ensino Médio proposta pelo governo Temer apresenta quatro grandes problemas: privatização; fragmentação do ensino no País, reforma aplicada para os mais pobres (focada na profissionalização) e falta de um amplo debate com a sociedade. Estes foram os pontos apresentados pelo professor de educação da Universidade de Campinas (UNICAMP), Evaldo Piolli no seminário sobre a Reforma do Ensino Médio.
O evento foi organizado pelo Sindicato dos Professores do ABC (SINPRO) no último sábado, dia 29 de outubro e contou com a participação de diversos professores da região, do ensino infantil ao superior.
De acordo com o professor Evaldo Piolli, essa reforma proposta pelo atual governo já foi aplicada no País e gerou grande desigualdade social dividindo o ensino em dois grande grupos: para pobre e ricos. “Essa reforma está sendo feito para os mais pobres, do ensino público, com grande ênfase na profissionalização, para atender o mercado de trabalho, ou seja, a demanda dos empresários. O que deverá fazer com que o jovem, ao optar por uma profissão, abandone seu projeto de cursar uma Universidade”, avaliou. Segundo ele, já os jovens das classes mais ricas, “optarão pelos cursos superiores, sendo qualificados e graduados para atuarem como classes dominantes. Desta forma você elitiza o Ensino Superior”.
Segundo o professor de educação da Unicamp, o Ensino Médio precisa de uma reforma sim, “mas não essa que vem para sucatear ou baratear a oferta do ensino”. Para Piolli, antes da reforma é preciso que a sociedade discuta todos os itens que envolvem a educação no País e que os principais interessados sejam ouvidos, como professores e alunos. “Os estudantes secundaristas já deixaram bem claro que não querem um currículo estreito. Eles são favoráveis a um currículo abrangente que os tornem pensadores críticos e capazes de atuarem como agentes transformadores da sociedade”, declarou.
Já de acordo com o presidente do SINPRO ABC e professor de física, José Jorge Maggio, os ideais de ensino partem da defesa de uma escola pública, gratuita, laica, inclusiva e de qualidade. Segundo ele, quando o segmento se depara com uma reforma como essa, proposta pelo atual presidente Temer, a preocupação é muito grande, porque ela vai atender principalmente aos interesses do comércio e da indústria que buscam mercantilização da educação. “A maior riqueza que você pode ter hoje é o conhecimento e na medida em que os órgãos públicos começam a retirar do currículo filosofia, sociologia, artes; você deixa de levar informação aos estudantes e isso é parte fundamental do processo de formação. Para você desenvolver a plenitude do cidadão é preciso que você tenha todas as áreas do conhecimento sendo aplicadas na educação”, avaliou Maggio.
O governo federal apresentou a medida provisória (MP 746) sobre a reforma do ensino médio no dia 22 de setembro. A proposta terá de ser aprovada em até 120 dias pela Câmara e pelo Senado, caso contrário, perderá o efeito.