Por Eduardo Cézar da Silva*

Na última quarta-feira (12), estive presente em um evento promovido pela Fundação FEAC (Federação das Entidades Assistenciais de Campinas). A instituição tem personalidade jurídica de Fundação de direito privado, constituída por um patrimônio destinado a uma causa pública, sem fins lucrativos. No evento foram lançadas duas publicações do Observatório da Educação (criado pela ONG Ação Educativa em 2002). “Pontos e contrapontos do ensino e da aprendizagem de Matemática na perspectiva da avaliação da Prova Brasil”, de autoria do professor Ruy Cesar Pietropaolo, e “Pontos e contrapontos do ensino e da aprendizagem de Língua Portuguesa/Leitura na perspectiva da avaliação da Prova Brasil”, da professora Zuleika de Felice Murrie.

Como se vê pelos títulos, os autores são pautados pelos resultados da Prova Brasil e não pelo processo de ensino e aprendizagem. Infelizmente, as avaliações externas ganharam uma importância desproporcional a partir de uma interpretação viciada da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). A visão míope de pesquisadores renomados e qualificados preocupa.

No caso da matemática, não se pode desprezar a construção sólida nas mentes dos educandos dos algoritmos da aritmética para que posteriormente sejam aplicados na álgebra ou na geometria. Pior, propor a antecipação de etapas como o domínio da escrita e da leitura até o 2º ano do ensino fundamental (respaldada por planos municipais de educação equivocados), ou mesmo a introdução da álgebra nos primeiros anos do ensino fundamental são ações que visam desqualificar o aluno como construtor do seu próprio conhecimento dentro de tempo natural de maturação de suas estruturas cognitivas. Isto é, “a fruta só amadurece no seu tempo”.

No meu entender essas propostas atendem ao mundo do consumo que precisa de indivíduos cada vez mais jovens aptos a adquirir capacidades de identificar e quantizar bens materiais indutores do sentimento de posse.

Para fechar o debate, os autores ainda defenderam um novo currículo que contemple áreas do conhecimento e não mais disciplinas - proposta que já vem ganhando corpo na Secretaria de Educação de São Paulo. Com isso, o que era preocupação hipotética torna-se desespero, pois a ameaça se volta para a pesquisa teórica desenvolvida nas universidades. Com um único professor lecionando matemática, física, química e biologia (sabe-se lá de que jeito), que motivação um aluno teria para cursar uma faculdade de qualquer uma dessas ciências? O que aconteceria com a pesquisa nacional? Voltaríamos a sermos reféns de compra de tecnologia ultrapassada de outros países que já teriam alcançado um estágio de desenvolvimento superior?

Por mais que sejamos uma entidade sindical, não se trata aqui de examinar a questão de forma corporativista, mas sim de soberania nacional.

Estamos de olho!

*diretor da Fepesp e presidente do Sinpro Guapira


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