Em encontro histórico, Dilma, Lula e Mujica atacam movimento golpista e Central cobra foco no desenvolvimento durante abertura política do encontro

Fonte: CUT – Foto: Roberto Parizotti

A CUT abriu oficialmente a 12ª edição de seu Congresso Nacional (CONCUT) na noite desta terça-feira (13), em São Paulo. E em tempos de criminalização da política, os trabalhadores e trabalhadoras que lotaram um dos auditórios do Palácio de Convenções do Anhembi mostraram saber exatamente de qual lado estão.

Vagner Freitas diz que CUT está disposta a ajudar Brasil a retomar desenvolvimento (Foto: Roberto Parizotti)Vagner Freitas diz que CUT está disposta a ajudar Brasil a retomar desenvolvimento (Foto: Roberto Parizotti)

Antes mesmo do início da cerimônia, que contou com discursos inspirados em defesa da democracia, os cerca de cerca de três mil delegados e delegadas puxaram coros contra a Rede Globo (“a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”), contra o golpe e em defesa da Dilma Rousseff que elegeram (“eu quero a Dilma que elegi, fora o Cunha e leva junto o Levy”).

Presidente Nacional da CUT, Vagner Freitas, foi um dos primeiros a destacar que o momento é de o governo virar o jogo e fazer uma tabela com os movimentos sociais por menos cortes e mais desenvolvimento. Para ele, a Central pode contribuir como protagonista nesse processo, desde que a presidenta Dilma esteja aberta ao diálogo.

“Precisamos sair juntos da crise, esse é o papel da sociedade civil organizada. É preciso virar a página desse terceiro turno no Brasil.”

Vagner ressaltou ainda as lutas da CUT durante os últimos três anos em que esteve à frente da CUT. Apontou a Marcha das Margaridas de 2015, que reuniu mais de 100 mil mulheres em Brasília, o combate ao PL 4330 (projeto de lei da terceirização sem limites) e falou sobre a defesa da democracia, um dos temas do 12º CONCUT.

”Não vai ter golpe e estamos prontos para enfrentar os golpistas. Já fomos, estamos, e voltaremos às ruas para defender o mandato da presidenta Dilma. A classe trabalhadora não errou, nos 32 anos da história da CUT e incomodamos tanto que estão querendo destruir a dignidade da classe trabalhadora”, avaliou.

Projeto é o alvo

Em um discurso também marcado pela defesa da democracia, Dilma deixou o estilo mais técnico de lado e elevou o tom contra os ataques ao seu governo. Segundo ela, as tentativas de golpe por conta do projeto de desenvolvimento, inclusão social e o combate às desigualdades que representa.

Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, ela elogiou a CUT por adotar a paridade, que definiu como uma opção responsável por apontar um caminho que aponta a importância das mulheres nas lutas do país e explicou o que levou aos ajustes fiscais.

Artur Henrique (de cinza, à frente) e Jair Meneguelli (de camisa branca), ex-presidentes da CUT durante o CongressoArtur Henrique (de cinza, à frente) e Jair Meneguelli (de camisa branca), ex-presidentes da CUT durante o Congresso

A presidente ressaltou que o Brasil lutou nos últimos seis anos contra a crise internacional, mas que os instrumentos de geração de emprego e renda utilizados até então atingiram o limite. Diante disso, defendeu as medidas adotadas nesse início de segundo mandato para readquirir equilíbrio fiscal, diminuir a inflação e voltar a crescer.

Dilma lembrou também que as pedaladas fiscais são atos administrativos também usados pelos governos que a antecederam. “Não tivemos nenhum interesse nesses atos nada que não seja executar nossas políticas de investimento”, falou.

Estabilidade política

Para mudar o cenário, disse a presidenta, é necessária a estabilidade política que a oposição não quer.

“Há uma busca incessante da oposição de encurtar seu caminho ao poder, de dar um salto e chegar ao poder fazendo um golpe. Disse fazendo porque se trata de construir de forma artificial o impedimento a um governo eleito democraticamente por 54 milhões de votos. Jogam sem nenhum pudor no quanto pior, melhor. E pior para a população é o melhor para eles.”

A presidenta ressaltou também que a oposição vota contra medidas que ela mesma criou no passado quando estava no poder e tratou da aliança dos setores conservadores com os grandes meios de comunicação para minar sua gestão. “Envenenam a população todos os dias nas redes sociais e na mídia e o pior é que espelham o ódio e a intolerância”, criticou, sendo interrompida, nesse momento, por um uníssono “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.

Ao dizer que a hora é de unir forças, combater o pessimismo e a intriga política, Dilma desafiou. “Quem tem força moral, reputação ilibada ou biografia limpa o suficiente para atacar minha honra?”

Brasil no comando

Lula classificou a intervenção de Dilma como um divisor de águas e, para ele, a presidenta assumiu a postura de quem foi escolhida por 55 milhões de brasileiros.

“Hoje deixamos de ter apenas uma presidente para ter uma líder política. Hoje a Dilma não fez um discurso de presidenta, com relatório do que cumpriu, mas veio dizer ‘eu sou a presidenta desse país com voto conquistado pelo povo e vou exercer meu mandato na sua plenitude. Hoje é como se ela estivesse falando, mulheres e homens do meu Brasil, não deem ouvidos aos nossos adversários porque eu assumi definitivamente a presidência do Brasil”, classificou.

Porém, o ex-presidente cobrou que Dilma vire a chave da política econômica, de um modelo de corte, para outro de crescimento e geração e emprego.

Mujica fala ao lado de representantes dos movimentos sociaisMujica fala ao lado de representantes dos movimentos sociais

Ao lado de Mujica, Lula tratou ainda o papel de protagonismo que o Brasil possui para fazer com que a América do Sul tenha um papel de relevância no mundo.

“Nunca houve um acumulo de eleição de gente de esquerda e comprometida com os trabalhadores como nos últimos 15 anos na nossa querida América do Sul. Acho que é exatamente por isso que estamos vivendo esse momento de enfrentamento. Acho que o destino da América do Sul está definitivamente ligado à capacidade que o Brasil tem de juntar seus parceiros e construir uma política conjunta sul-americana.”

Unidade latina

Pepe Mujica falou sobre a dificuldade de enfrentar uma burguesia débil e ignorante, mas reforçou que o antídoto para isso é a unidade, sem que isso signifique vender princípios em troca de governabilidade.

“É preciso unidade para governar, mas isso não significa hipotecar a pátria. Significa construir uma casa que nos proteja à todos. Eu sei, brasileiros, que vocês estão passando por um momento difícil. Mas eu aprendi algo durante a minha vida: a luta que se perde, é a que não se luta”, definiu.

Outro desafio, apontou um dos maiores populares presidentes da América do Sul na história, é combater a sedução de tornar-se o que se combate. “Os trabalhadores não podem deixar que a cultura burguesa os iludam. A verdadeira pobreza é gastar a vida preocupado em viver acumulando, acumulando, acumulando e acumulando. Companheiros da CUT, temos que lutar por salários melhores, mas sem se iludir com a cultura burguesia.”

Congresso de unidade

O discurso comum dos presidentes não significou ausência de pluralidade. Ao contrário, a quantidade de organizações presentes no palco durante a abertura do 12º CONCUT deixou clara, antes de tudo, a importância estratégica desse encontro para a unidade da esquerda.

Organizações como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MTST (Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Teto), UNE (União Nacional dos Estudantes) e CMP (Coordenação dos Movimentos Populares) foram representadas pela intervenção de uma mulher, negra e jovem, a dirigente do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), Maria Mazé.

“Trazemos a disposição de concretizar a aliança camponesa e operária por soberania alimentar. Essa aliança é contra golpismo, machismo, criminalização e contra retrocesso. Essa aliança é de classe e em defesa do povo brasileiro e da democracia. Neste país não haverá golpe”, sacramentou.


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