Neste Março Mulher, podemos afirmar que há bastante chão a ser trilhado no caminho para uma sociedade em que as disparidades de gênero deixem de existir
Por Margot Johanna Capela Andras*
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu segundo artigo, nos diz que “todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie […]”. Se entendemos e aceitamos essa premissa, como explicar que ainda exista distinção com mulheres no ambiente de trabalho, no ir e vir de muitos meios urbanos, no meio acadêmico, cultural e tantos outros espaços? Como explicar todas as formas de discriminação e todas as formas de violência contra mulheres e meninas?
Se formos considerar o relatório da ONU pré-pandemia, já era assustador: no mundo, mais mulheres vivem na linha da pobreza; mais são analfabetas etc., sem falar de casamentos arranjados ainda quando crianças, da impossibilidade de trabalho etc.
Falando aqui do Brasil e do período pandêmico, foram mulheres as primeiras a serem demitidas, terem suas jornadas e salários reduzidos e as últimas a terem seus empregos devolvidos.
No período de isolamento social, aumentou o número de mulheres que sofreram abusos, agressões e triplas jornadas de trabalho.
Havia o trabalho remoto, o trabalho doméstico e o acompanhamento dos filhos na educação à distância também. E ainda assim havia setores construindo bancos de horas, alegando que, afinal de contas estavam em casa, e foi cortado vale alimentação e transporte.
Não podemos esquecer que a discriminação baseada no gênero nunca vem sozinha, envolve raça e classe. São muitos os fatores que contribuem para as mulheres ficarem em desvantagem e não podemos vê-los isoladamente.
É preciso pensar em uma agenda que contemple políticas públicas e legislação que tenham como objetivo abordar e acabar com essa desigualdade, com as dificuldades, com as poucas opções de empoderamento e desenvolvimento de meninas e mulheres.
Para alcançarmos esse propósito, precisamos discutir e interferir no racismo e sexismo institucional e superar vieses que sejam identificados, como os tratamentos estereotipados nas mídias e meios de comunicação. Só assim poderemos acabar com toda forma de discriminação e violência, tanto na esfera pública quanto privada.
Considerar desenvolvimento sustentável pressupõe promover a equidade de gênero em todas as atividades econômicas e sociais, incluindo a Política. A maior presença de mulheres em todos os lugares, sua participação nas decisões no manejo dos recursos econômicos e naturais e a proteção do meio ambiente vão garantir o efetivo crescimento do país e da qualidade de vida dos homens, mulheres e crianças.
Ou seja, neste Março Mulher, podemos afirmar que há bastante chão a ser trilhado no caminho para uma sociedade em que as disparidades de gênero deixem de existir. Mas não devemos deixar de desejar e lutar, neste mês e por toda a vida, por uma sociedade em que mulheres e meninas – metade da população do mundo – não sejam mais deixadas para trás e ocupem seus lugares, seja onde quiserem.
*Margot Johanna Capela Andras é coordenadora da Secretaria de Defesa das Diversidades, Direitos Humanos e Respeito às Etnias e Combate ao Racismo