Governo Lula
Mal começou o governo e é tal a chuva de críticas de especialistas exigindo providências de alcance imediato que me atrevo a fazer algumas considerações sobre o passado recente, trabalhando alguns dados que talvez possibilitem iluminar alguns caminhos.
Na saída da ditadura militar, o poder constituído, em troca da redemocratização do país, fez uma série de exigências para inviabilizar e evitar o crescimento dos partidos de esquerda. Lançou regras e percentuais, voto vinculado, capitais e municípios de "segurança nacional" fora das eleições de 1982, impedimento das diretas em 1984, prorrogação de mandatos municipais em 1986, tudo de acordo com o figurino Golbery. E mais, "centrão" na constituinte barrando avanços, constituição parlamentarista e mandato de quatro anos sob medida, eleições em dois turnos, além de outros.
Eu também gostaria de mudanças já. Aliás se dependesse de mim, elas teriam acontecido há quarenta anos, mas, guardadas as devidas proporções, é preciso que não se esqueçam as "forças ocultas" do governo Jânio Quadros, quando os meios de comunicação caíram matando nas proibições dos biquínis e das brigas de galo, nos goles a mais, nos "bang-bangs" no palácio e na condecoração do "guerrilheiro cubano".
Sendo que muito pouco foi dito sobre a falta de organização e sustentação partidária e a resistência da maioria do Congresso. E, principalmente, sobre a nova posição do Brasil em política internacional defendendo a não intervenção em assuntos internos de outros países, a autodeterminação dos povos e o não alinhamento favorecendo a independência comercial. Tal política externa ficou clara e se mostrou especialmente preocupante para os Estados Unidos, quando nos foi oferecido por nações não alinhadas - a Iugoslávia de Tito, o Egito de Nasser, a Índia do sucessor de Gandi e Cuba de Fidel - um lugar no chamado grupo dos 77, na reunião em Nova Delia, na Índia, pouco antes da renúncia. Está certo que Jânio era muito estranho, para dizer o mínimo, e não estava preparado para a presidência, mas o que dizer de Jango Goulart apeado do poder três semanas depois de, em praça pública, assinar a Lei de Remessas de Lucros e acenar com as reformas bancárias e agrárias?
Sem falar no que andou acontecendo na Colômbia, Rússia, Argentina, Venezuela e outros. O que estou querendo dizer é que todo cuidado é pouco quando se cutuca os vesperos do não aliamento internacional, da volatividade do sistema financeiro, dos latifúndios e dos meios de comunicação nas mãos de uns poucos grupos familiares, temperados com muita sonegação, corrupção desenfreada e crime organizado.
Com relação ao PT, desde sua fundação estava previsto muita luta em uma caminhada para a sua consolidação e de suas principais estrelas. Muitos ficaram pelo caminho, outros continuam querendo... Assim, neste mais de 20 anos, passamos de 118 vereadores para 2485, de duas prefeituras para 185, de 12 deputados estaduais para 147, de 8 federais para 91 e de 1 senador (em 1990) para 14 na atual legislatura, refletindo sua crescente organização (esses números podem ser melhor visualizados na página www.pt.org.br/snai).
Cabe ressaltar que na última eleição para governadores, se analisadas com cuidado, reflete este mesmo crescimento quanto ao número de votos.
No ritmo apontado, o que seria justo esperar para os próximos anos? Verificando a história de determinados períodos de outros partidos políticos, me arrisco a prever para as próximas eleições (2004 e 2006) um fantástico crescimento, com o PT emplacando em centenas de prefeituras e em grande número de estados. Sem medo de ser feliz, minha esperança está em que as mudanças programadas estarão sendo preparadas no governo federal, embora com idas e vindas e de forma bem mais lenta do que muitos gostaríamos, até que elas também virão dos governos municipais e estaduais, de baixo para cima, encontrando a fome com a vontade de ter o que comer.
É isto! E PT Saudações.
Túlio Sérgio Bulcão, professor de Geografia, é militante do PT, da APEOESP e diretor do SINPRO-ABC
Mal começou o governo e é tal a chuva de críticas de especialistas exigindo providências de alcance imediato que me atrevo a fazer algumas considerações sobre o passado recente, trabalhando alguns dados que talvez possibilitem iluminar alguns caminhos.

Na saída da ditadura militar, o poder constituído, em troca da redemocratização do país, fez uma série de exigências para inviabilizar e evitar o crescimento dos partidos de esquerda. Lançou regras e percentuais, voto vinculado, capitais e municípios de "segurança nacional" fora das eleições de 1982, impedimento das diretas em 1984, prorrogação de mandatos municipais em 1986, tudo de acordo com o figurino Golbery. E mais, "centrão" na constituinte barrando avanços, constituição parlamentarista e mandato de quatro anos sob medida, eleições em dois turnos, além de outros.

Eu também gostaria de mudanças já. Aliás se dependesse de mim, elas teriam acontecido há quarenta anos, mas, guardadas as devidas proporções, é preciso que não se esqueçam as "forças ocultas" do governo Jânio Quadros, quando os meios de comunicação caíram matando nas proibições dos biquínis e das brigas de galo, nos goles a mais, nos "bang-bangs" no palácio e na condecoração do "guerrilheiro cubano".

Sendo que muito pouco foi dito sobre a falta de organização e sustentação partidária e a resistência da maioria do Congresso. E, principalmente, sobre a nova posição do Brasil em política internacional defendendo a não intervenção em assuntos internos de outros países, a autodeterminação dos povos e o não alinhamento favorecendo a independência comercial. Tal política externa ficou clara e se mostrou especialmente preocupante para os Estados Unidos, quando nos foi oferecido por nações não alinhadas - a Iugoslávia de Tito, o Egito de Nasser, a Índia do sucessor de Gandi e Cuba de Fidel - um lugar no chamado grupo dos 77, na reunião em Nova Delia, na Índia, pouco antes da renúncia. Está certo que Jânio era muito estranho, para dizer o mínimo, e não estava preparado para a presidência, mas o que dizer de Jango Goulart apeado do poder três semanas depois de, em praça pública, assinar a Lei de Remessas de Lucros e acenar com as reformas bancárias e agrárias?

Sem falar no que andou acontecendo na Colômbia, Rússia, Argentina, Venezuela e outros. O que estou querendo dizer é que todo cuidado é pouco quando se cutuca os vesperos do não aliamento internacional, da volatividade do sistema financeiro, dos latifúndios e dos meios de comunicação nas mãos de uns poucos grupos familiares, temperados com muita sonegação, corrupção desenfreada e crime organizado.

Com relação ao PT, desde sua fundação estava previsto muita luta em uma caminhada para a sua consolidação e de suas principais estrelas. Muitos ficaram pelo caminho, outros continuam querendo...
Assim, neste mais de 20 anos, passamos de 118 vereadores para 2485, de duas prefeituras para 185, de 12 deputados estaduais para 147, de 8 federais para 91 e de 1 senador (em 1990) para 14 na atual legislatura, refletindo sua crescente organização (esses números podem ser melhor visualizados na página www.pt.org.br/snai).

Cabe ressaltar que na última eleição para governadores, se analisadas com cuidado, reflete este mesmo crescimento quanto ao número de votos.

No ritmo apontado, o que seria justo esperar para os próximos anos? Verificando a história de determinados períodos de outros partidos políticos, me arrisco a prever para as próximas eleições (2004 e 2006) um fantástico crescimento, com o PT emplacando em centenas de prefeituras e em grande número de estados. Sem medo de ser feliz, minha esperança está em que as mudanças programadas estarão sendo preparadas no governo federal, embora com idas e vindas e de forma bem mais lenta do que muitos gostaríamos, até que elas também virão dos governos municipais e estaduais, de baixo para cima, encontrando a fome com a vontade de ter o que comer.

É isto! E PT Saudações.
Túlio Sérgio Bulcão, professor de Geografia, é militante do PT, da APEOESP e diretor do SINPRO-ABC

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