Metodista demite professores. Os cursos mais afetados são os de pós-graduação

Matéria publicada pelo G1 nesta quinta-feira (14/12/2017)

O Sindicato dos Professores do ABC (Sinpro ABC) estima que ao menos 45 professores foram demitidos pela Universidade Metodista de São Paulo neste semestre, quando uma nova cúpula assumiu a gestão da instituição de ensino. Os cursos mais afetados são de pós-graduação, segundo alunos e professores.

De acordo com o Sinpro ABC, cinco programas de pós-graduação perderam professores nas últimas semanas – comunicação, educação, administração, psicologia e ciências da religião.

“O número de demissões beira 45 professores e a expectativa é de que ocorram ao menos outras 15 até o dia 18 de dezembro, com o encerramento do ano letivo. A área de pós-graduação é a mais afetada. Na graduação estão fechando cursos, como matemática, biologia, letras, filosofia. Vamos acionar a Justiça para preservar os direitos dos docentes afastados”, afirma José Jorge Maggio, presidente do Sinpro ABC, que tem acolhido e orientado a categoria sobre os direitos trabalhistas após os desligamentos.

O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa da Metodista no início da tarde desta quarta-feira (13) questionando o motivo das demissões e o número de professores desligados. A universidade não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem.

Demissões

Os desligamentos de professores começaram a acontecer neste semestre, logo depois que o novo reitor, o professor Paulo Borges Campos Júnior, assumiu o cargo de administrador da instituição. Em seguida, alguns diretores das faculdades foram substituídos.

“A Metodista alega crise econômica no Brasil, mas não faz muito sentido porque não afastaram os professores que ganham mais. Afastaram aqueles estavam à frente de movimentos que resistiam contra a extinção de cursos na universidade”, aponta Maggio.

Uma das demitidas foi a professora doutora Marli dos Santos, que lecionava na graduação, coordenava o programa de pós-graduação e atuava em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em um projeto dentro da universidade.

“A demissão sumária me pegou de surpresa, sim. Todo o acesso ao sistema foi imediatamente bloqueado. Foi uma decisão que veio de cima para baixo, sem discussão, sem aviso prévio, sem consideração e sem consulta às demais instâncias e órgãos colegiados, de forma autoritária, atingindo o programa de pós-graduação”, diz Marli dos Santos.

A professora alerta ainda para os riscos de manutenção dos programas de pós-graduação junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação.

“Há um desmonte. Além das demissões, sugeriram aos colegas a redução de carga horária, mesmo a Capes, que estabelece as normas dos cursos de pós-graduação, exigindo dedicação integral da equipe. Isso pode descredenciar a Metodista como Universidade e torná-la um Centro Educacional. É a pós que garante esse status ao ampliar a dimensão da instituição com ensino, pesquisa e extensão. Se não tem esse braço bem definido e consolidado, com investimento e comprometimento, perde a condição”, explica a professora doutora Marli dos Santos.

Alunos afetados

O mestrando em Comunicação Carlos Humberto Ferreira Silva Junior disse ao G1 que está em fase de conclusão da tese que desenvolve há dois anos, a ser entregue em fevereiro, mas seu orientador acaba de ser demitido.

“Dos 11 professores da pós-graduação em Comunicação, 8 saíram e sobraram 3 para orientar. Nenhum deles tem ligação com meu projeto e então terei que mudar a linha de pesquisa. É complicado. Há pelo menos outros 60 colegas, só da pós em Comunicação, na mesma situação, que eram orientados por esses professores”, afirma Carlos, que relatou ainda uma organização dos colegas para acionar a Justiça, caso se sintam prejudicados com os próximos capítulos da história.

A crise na universidade atinge os três campos – Vergueiro, Planalto e Rudge Ramos, mas com mais impacto neste último, de acordo com o Sindicato dos Professores do ABC. Na graduação, os alunos também têm sentido as mudanças.

A data de apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da aluna do curso de Jornalismo, Girrana Rodrigues Teixeira, foi alterada. “A apresentação deveria ter sido na quinta-feira (7) à noite, mas fui comunicada às 15h30 daquele dia que seria adiada. A banca é formada por três professores – um deles está de licença médica e outra, que era nossa convidada, acaba de ser demitida. Não sei como vai ser”, diz Girrana.

“A professora foi escolhida por conhecer muito do assunto que tratamos e acompanhou todo o processo de produção. Ao afastá-la, não levaram em consideração nosso projeto, nem nosso comprometimento com ele. Outros dois grupos contavam com ela também”, continua.

A graduanda, que compõe o diretório acadêmico dos estudantes de Jornalismo da instituição, relata que os colegas percebem mudanças há cerca de um ano e meio. “Começamos a notar a falta de papel e sabonete no banheiro, depois de cartão de memória e computadores. Então, soubemos que a autonomia dos professores era esvaziada na escolha do conteúdo, que haveria investimento no Ensino à Distância e começaram as demissões”, afirma Girrana Rodrigues Teixeira.


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