"VÂNDALOS PROVOCAM DESTRUIÇÃO EM MINAS" - O Globo (27/6).
"MORADORES IMPROVISAM 'MILÍCIA' CONTRA VÂNDALOS NO RS" - Folha de SP (29/6).

E tantas outras centenas de vezes nas quais os “vândalos” protagonizaram no horário nobre a tentativa das TVs de se fazer o início de algum fim.
Os Vândalos foram um povo de origem germânica, provavelmente natural do que atualmente chamamos Noruega.
Durante um processo de migração para o sudoeste da Europa, os Vândalos chegaram ao norte da África, cruzando o estreito de Gibraltar e atingiram Cartago. Em 439 d.C., a aliança com os Alanos (de origem iraniana) resultou num reino que conquistou a Sicília, Sardenha, Córsega e as Ilhas Baleares.
Os Vândalos saquearam Roma no ano de 455 d.C. por vários dias e resistiram bravamente a vários conflitos contra o Império Romano. O declínio do reino Vândalo e Alano se deu em 534, devido a expansão do Império Bizantino.
Como sabemos, hoje em dia, vândalo é um substantivo que caracteriza o indivíduo que promove saques e a destruição de monumentos e bens públicos, mas as ações do povo Vândalo não foram diferentes de outros povos antigos que igualmente lutaram contra o Império Romano saqueando cidades situadas sob seu domínio. Chamar alguém de vândalo não faz justiça a um povo que lutou bravamente pelo seu direito de existência.
As manifestações dos últimos dias, nas principais capitais do país, tiveram forte repercussão na mídia muito mais graças aos “vândalos” do que propriamente às massas que ocuparam as ruas com reivindicações difusas. Algumas sem o menor cabimento, como exigir da presidenta da república que prenda os réus do “mensalão”.
Campanha das “Diretas Já”, 1984. Em janeiro daquele ano, cerca de 300.000 pessoas se aglutinaram na Praça da Sé, em São Paulo, exigindo o direito de votar para presidente da república. Três meses depois, um milhão de pessoas tomou o Rio de Janeiro.
Algumas semanas depois, cerca de 1,7 milhões de pessoas se manifestaram em São Paulo, num grande comício. Mais que o dobro das pessoas que saíram às ruas na noite de 20 de junho deste ano em todo o país! Tudo isso não foi suficiente para sensibilizar os deputados que votaram contra a emenda Dante de Oliveira. As diretas aconteceriam 5 anos mais tarde. Evidentemente que a conjuntura política era outra, mas a conjuntura econômica também, naquela época muito mais desfavorável aos trabalhadores: entre 1980 e 1984 a renda média da população caiu 16,5%, voltando ao nível de 1976, enquanto o emprego na indústria caia 20%, voltando ao nível de 11 anos atrás.
Entretanto, tanto hoje como em 1984, uma coisa não mudou: a cobertura da mídia poderosa tradicional das grandes redes de televisões e dos jornalões, que se estendem, atualmente, pela internet, cuja atuação é sensível à percepção de uma parcela dos manifestantes.
Em tempos de mudanças, a tarefa desses veículos de comunicação tem consistido em exortar o preconceito partidário e contra os próprios manifestantes, utilizando o substantivo vândalo para classificá-los em determinados momentos, e distorcer a informação em nome da manutenção de seus Impérios de Comunicação vinculados a interesses políticos e econômicos. Não é à toa, que milhares de pessoas reivindicaram a democratização da mídia, através da regulamentação dos meios de comunicação, em protesto que ocorreu no dia 3 de julho na porta da Rede Globo, no Rio de Janeiro.
Não faltaram os Vândalos?

Nelson Bertarello - Diretor do SINPRO ABC


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