O mercado especulativo, e também parcela do produtivo, por intermédio da mídia, tem feito um verdadeiro cerco à presidente Dilma, inclusive com chantagem, para definir o perfil de sua equipe econômica – Fazenda e Banco Central.

O argumento é de que se o governo Dilma não indicar um ministro da Fazenda e um presidente do Banco Central identificados ou com credibilidade perante os mercados, o Brasil será rebaixado pelas agências de risco e perderá o “investment grade” (grau de investimento), com a consequente saída de centenas de bilhões de dólares do País.

A justificativa para a saída do capital estrangeiro, segundo essa lógica de mercado, é que as grandes multinacionais, de acordo com sua política de governança corporativa, não poderiam investir em países sem o “investment grade”, selo de confiabilidade conferido pelas agências de risco. Logo, a saída de capital seria automática.

Assim, segundo essa lógica, caso o País perdesse a condição de país “confiável”, em razão do rebaixamento de sua nota, sofreria um ataque especulativo, com o dólar e a inflação disparando, levando ao aumento do desemprego e à queda na renda, além de consequente recessão econômica.

Não satisfeitos em retirar do governo, que foi eleito, a livre escolha de sua equipe, ainda sugerem os nomes capazes de restabelecer a “confiança” dos investidores. O principal traço, além da identidade com o mercado financeiro, é a determinação para promover um profundo ajuste fiscal, com corte de despesas, inclusive, se o for o caso, de direitos e programas sociais.

Entre os nomes apontados,

o considerado ideal, o do presidente do Bradesco, senhor Luiz Carlos Trabuco Cappi, já foi descartado, porque o próprio mostrou desinteresse na missão, especialmente por temer que não teria carta branca para promover o ajuste desejado pelo mercado.

O segundo mais cotado, o ex-presidente do Banco Central nos governos Lula, Henrique Meirelles, para ter o mesmo nível de confiança do Trabuco para o mercado, deveria ter carta branca, para nomear alguém de sua absoluta confiança para a Secretaria do Tesouro. Ou seja, a presidente teria que renunciar ao comando da economia, dando-lhe poderes absolutos para montar a equipe e promover o ajuste ou choque fiscal.

O terceiro lembrado pelo mercado, o ex-secretário-executivo da Fazenda, embora não seja banqueiro, é aceito especialmente por: a) defender transparência nas contas públicas, aliás o motivo que o fez deixar o governo; b) defender a unificação do Pis/Cofins e a reforma do ICMS; e c) defender mudanças, leia-se corte, nos seguros-desemprego, nos abonos e nas pensões, no auxílio-doença etc.

A quarta opção do mercado é o atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e desde que alguém com o perfil de Henrique Meirelles fosse designado para o Banco Central. O mercado teme que Tombini, que age com alguma autonomia no BC, receba ordens da presidente na Fazenda, hipótese em que o mercado perderia duplamente: sairia um presidente do BC confiável e entraria um ministro da Fazenda sem autonomia frente à presidente.

Esse, resumidamente, é o cenário de chantagem. Ou o governo faz o que o mercado quer, o que significa abrir mão da política econômica e dos compromissos de campanha com a preservação das políticas sociais, ou joga o País na recessão. Veja a que nível chegou a ousadia dos agentes do mercado.

Todos sabemos que o alinhamento automático entre a equipe econômica e o mercado financeiro significa perda para o setor produtivo e também para os trabalhadores, porque os recursos irão majoritariamente para a formação de superávit primário e não para o crédito, o investimento e os programas sociais.

Se analisarmos os últimos 20 anos, facilmente identificamos que nos primeiros dez (todo governo FHC e os dois primeiros anos do governo Lula), houve esse alinhamento e nesse período não houve crescimento, geração de emprego, distribuição de renda ou programas sociais de relevo. Isto só passou a acontecer quando houve a troca na equipe econômica, com a substituição de um ministro da Fazenda monetarista (Pallocci) por um desenvolvimentista (Mantega).

Se a presidente atender às chantagens do mercado, e o fizer com as credenciais que o sistema financeiro deseja, terá entregue a condução da política aos derrotados na eleição presidencial, porque, embora o nome não seja o de Armínio Fraga, o receituário será o mesmo.

A presidente precisa ter muito equilíbrio nessa hora. Não pode ignorar a necessidade de escolher um nome respeitado pelo setor produtivo e pelo sistema financeiro, inclusive para garantir o retorno dos investimentos privados, mas também não pode renunciar à delegação que lhe foi dada para governar em sua plenitude, especialmente na economia, indicando alguém bancado pelo mercado financeiro.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar)


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