No dia 29 voltaremos às ruas para protestar contra a reestruturação das escolas, jeito tucano de se referir ao fechamento de salas de aula

Por Douglas Izzo e Vagner Freitas, presidentes da CUT São Paulo e CUT Nacional

Um grupo de homens vestidos de preto chamava a atenção na mais recente manifestação que os movimentos sindical e sociais realizaram em São Paulo, no último dia 3, em defesa da democracia, da Petrobrás e contra o ajuste fiscal.

O ato foi acompanhado de perto pelo Comando de Ações Especiais (CAE) da Polícia Militar do Estado de São Paulo, grupo treinado, vejam só, para fazer o resgate em situações extremas em matas, rios e mares, e para combater o narcotráfico. Como na Avenida Paulista não tem matas, rios nem mares, e como os movimentos não traficam drogas, concluímos que a estranha presença, associada à tradicional fileira de homens da PM, só tem uma explicação: tentativa de intimidar os movimentos de esquerda que lutam por direitos, como mais e melhores escolas e água nas torneiras, em defesa da democracia e por uma segurança pública que proteja os cidadãos e as cidadãs.

A intimidação e a violência da polícia de Alckmin não se restringem aos movimentos de esquerda, atingem com toda a força a periferia, os negros e os mais pobres. A PM ultrapassa frequentemente a tênue linha que divide grupos de policiais e bandidos, como foi comprovado pela própria Corregedoria da PM durante investigação da trágica e cruel chacina de Osasco, em agosto deste ano. Os investigadores concluíram que 19 pessoas foram assassinadas por Policiais Militares de Osasco, Barueri e Itapevi, na região metropolitana de São Paulo, em uma série de ataques.

Em espaços como o do Fórum do Funcionalismo do Estado de São Paulo, que reúne sindicatos da CUT, são comuns os relatos de servidores de todas as áreas, em especial da saúde e da educação, sobre esse tratamento diferenciado da PM de Alckmin aos trabalhadores e às trabalhadoras que vão às ruas lutar por direitos. São sempre recebidos com jatos de gás lacrimogênio e spray de pimenta, enquanto a elite branca que vai protestar contra a presidenta Dilma e o PT são recebidos com sorrisos e gentilezas que estimulam até as famosas selfies com os policiais que tomam conta das redes sociais.

Os professores são uma das maiores vítimas da truculência da PM de Alckmin e do descaso do governador com a Educação. Os salários são defasados, as condições de trabalho são precárias e decisões administrativas, como a chamada ‘reorganização escolar’, são tomadas sem negociações com a comunidade escolar, com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e demais entidades, além de movimentos sociais, indicam que o futuro pode ser muito pior.

Como lembra a Apeoesp, a ex-secretária Rose Neubaeur apresentou a mesma proposta em 1995. Não contribuiu em nada para melhorar a Educação no Estado. Muito pelo contrário, como mostram os resultados: 20 mil professores foram demitidos, outros docentes ficaram sem aulas em suas escolas, muita desorganização e transtornos tomaram conta das famílias dos estudantes, que convivem até hoje com inúmeros prejuízos à educação pública estadual.

O chamado choque de gestão tucano continua atacando a rede pública de ensino de São Paulo, com ou sem propostas como essa de ‘reorganização’, pleonasmo para evitar o termo correto que é ‘ fechamento de escolas’.

Segundo levantamento da Apeoesp, desde o início do ano já foram eliminadas 3.390 salas de aulas. A reorganização das escolas deve afetar cerca de um milhão de estudantes e levar ao fechamento de pelo menos mais 163 escolas. É isso que está levando às ruas de SP alunos, pais e professores preocupados com a qualidade do ensino.

Na próxima quinta-feira, 29, às 15h, no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, pais, alunos e professores voltam a protestar contra a reestruturação. Uma assembleia de professores vai discutir estratégias para tentar barrar as mudanças pretendidas pela secretaria estadual da Educação.

Queremos contribuir para que a sociedade se conscientize de que quem investe em Educação não precisa construir tantos presídios. Isso porque, se as crianças e adolescentes forem bem educados e qualificados para o mundo do trabalho e para a vida, teremos menos necessidade de gastar para tentar inibir a violência.

É uma política contrária a do governador de São Paulo que, ao invés de investir em Educação, abrindo mais salas de aulas, inaugurando novas escolas e valorizando os professores, opta por investir em prisões, na repressão às reivindicações e na PM nas ruas para agredir manifestantes de esquerda. Nos últimos três anos, o governo de São Paulo inaugurou 14 penitenciárias. No site da secretaria de Educação não conseguimos encontrar nenhuma inauguração de escolas.

Este é um cenário que se arrasta há 20 de gestão do PSDB. Na última greve dos professores por melhores condições de trabalho e valorização da categoria, que durou 92 dias, a maior da história da Apeoesp, não houve nenhuma disposição do governador para dialogar, chegar a um acordo de consenso. O estilo autoritário do governador leva a categoria a recorrer à greve, instrumento de luta usado quando não há diálogo, negociação, disposição de resolver um problema como o da Educação que afeta toda a população que precisa de uma escola pública de qualidade.

Queremos o fim da violência e o fim dessa cortina que blinda um governo incapaz de dialogar com os servidores, de apresentar propostas viáveis, de pensar nas necessidades reais da população, no futuro dos jovens. Queremos um governo que troque a bala de borracha e o cassetete da PM pela negociação e o diálogo.  

A gestão do governo de São Paulo, em especial em relação aos servidores, nos faz lembrar uma frase do saudoso Eduardo Galeano: “no manicômio global, entre um senhor que julga ser Maomé e outro que acredita ser Buffalo Bill, entre o terrorismo dos atentados e o terrorismo da guerra, a violência está nos arruinando”. No nosso manicômio Estadual, a violência também está nos arruinando.


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