A inflação em 2015
Em 2015, a taxa acumulada de inflação superou o teto da meta estabelecida pelo governo, de 6,5%, e apresentou variação acumulada de dois dígitos. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), calculados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), tiveram alta acumulada de 10,67% e 11,28%, respectivamente. Já o ICV (Índice de Custo de Vida) do Dieese, calculado para a cidade de São Paulo, acumulou 11,46%, a maior taxa desde 2002. Os itens que mais pressionaram, em todos os índices, foram os preços administrados, os combustíveis e a alimentação.
Os preços administrados correspondem ao conjunto de preços controlados pelo governo: impostos como IPTU e IPVA; tarifas de ônibus, trens e táxi; combustíveis; água, gás, luz e telefone. Em 2015, a crise hídrica e o problema de fornecimento e abastecimento de energia elétrica fizeram com que os reajustes das tarifas públicas ficassem muito acima da taxa média de inflação. Somente a energia elétrica aumentou 71,11%, o gás de botijão, 24,45%, e água e esgoto, 22,79%.
Depois de algum tempo sem reajuste autorizado pelo governo, o grande aumento nos preços dos combustíveis (álcool, gasolina e diesel) também teve forte influência sobre a taxa de inflação, direta e indiretamente, encarecendo os transportes e quase todos os bens de consumo, que precisam ser transportados, e também os serviços em geral. Assim, os reajustes nos combustíveis, nos últimos meses, também ajudaram a impulsionar os preços da alimentação, do vestuário etc. Merece destaque a alta do álcool (34,23%), cujo insumo é a cana de açúcar, e que teve o preço elevado por causa de problemas climáticos no estado de São Paulo.
Os alimentos pressionaram muito a inflação em 2015: carne, batata, cebola, tomate, frango tiveram altas acima da taxa média, o que afetou muito o custo de vida das famílias, principalmente as de menor renda. Um dos problemas foi a instabilidade climática associada ao fenômeno do El Niño: houve uma grande estiagem no início do ano e no segundo semestre, seca em algumas regiões e excesso de chuvas, sobretudo no Sul e Sudeste. Esses fenômenos climáticos fizeram com que a disponibilidade de vários produtos no mercado fosse reduzida, aumentando preços sem que houvesse aumento da demanda, o chamado choque de oferta.
Especificamente em relação à carne bovina, um dos alimentos de maior peso no orçamento das famílias, o comportamento de alta, ao longo de todo o ano, indicou a necessidade de um olhar mais acurado dos gestores públicos. Além de o Brasil estar exportando grandes volumes de carne, o custo de reposição para os produtores esteve muito alto, somado ao calor do início de ano, que, mesmo em período de safra, encareceu o preço dos cortes de carne.
Por fim, o câmbio desvalorizado estimulou a exportação das commodities brasileiras, como soja, açúcar, café e mesmo carne, o que reduziu o volume de produção destinado ao mercado interno. Já o trigo, muito consumido em todo o País, mas com baixa produção, teve o preço aumentado porque a importação ficou mais cara.
As famílias de renda mais baixa foram, sem dúvida, as que mais sofreram os impactos da inflação em 2015. Para elas, segundo o ICV-DIEESE, o custo de vida aumentou, em média, 12,83%. Para as famílias de maior renda, a taxa média de inflação ficou em 10,43%.
O que esperar para 2016? Os impactos dos preços administrados devem ser menores, com previsão, inclusive, de redução da tarifa de energia elétrica. Os efeitos do câmbio parecem estar absorvidos pela economia como um todo. Porém, o clima tem sido um dos grandes vilões da produção de alimentos e, segundo a meteorologia, o fenômeno do El Niño deve continuar ao longo do ano, causando calor excessivo e chuvas em grande quantidade.
Patrícia Costa é economista e coordenadora de pesquisa de preços (Cesta Básica/ICV) do Dieese