João Felicio - presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI)
Com a recente decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de manter a taxa básica de juros em 14,25%, o Brasil continua com a maior taxa real de juro (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) do mundo. Escandalosos 6,78%. Esta taxa real supera em mais de duas vezes a do segundo colocado, sendo que em 65% dos países ela é negativa.
Todos nós sabemos que juro elevado aumenta a dívida pública. Cada 1% a mais representa cerca de R$ 14 bilhões nos cofres do sistema financeiro, ao mesmo tempo em que dificulta o crédito e desestimula a produção. Além de outros fatores, juros altos são um dos principais motivos da recessão em que o País se vê mergulhado, com o PIB em queda e a indústria agonizando.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e todo o movimento sindical internacional sempre se posicionaram contra qualquer tipo de política recessiva implementada através de ajustes fiscais, que aprofundam o desemprego e reduzem recursos para as áreas sociais. Com a sangria dos juros, desde janeiro de 2015, banqueiros e especuladores embolsaram cerca de R$ 500 bilhões do Orçamento, às custas de profundos cortes na saúde, educação, no Minha Casa Minha Vida, entre outros importantes programas.
O Brasil é um país curioso e original em tudo. Alguns dias antes da reunião do Copom, o presidente do BC, Alex Tombini, sinalizou que a taxa de juros poderia ser elevada – sob o argumento do combate à inflação. A alternativa era e é defendida por muitos economistas neoliberais. Outros, inclusive a Executiva Nacional da CUT, têm lembrado que os motivos reais da inflação haver chegado a 10,67% no ano passado são o realinhamento dos preços administrados por contratos (reajustes das contas de luz e água, entre outros serviços privatizados) e a variação cambial, já que os produtos importados ficaram mais caros com a alta do dólar.
Pois bem, o Copom resolveu manter a taxa de juros que, repetimos, é extremamente elevada. A mesma imprensa nativa que dias antes criticava o anúncio do aumento dos juros, passou a condenar a manutenção do percentual, numa total falta de coerência. Para esta imprensa, aumentar, manter ou diminuir, tanto faz, o importante é divergir e aprofundar a crise, não contribuir com a sua superação. Nós somos coerentes.
O comportamento dos grandes conglomerados de comunicação, como sempre, é um horror. Para nós, horror é a taxa de juros.