A cidade de São Paulo ganhou nesta semana um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos durante os 21 anos de regime militar (1964 a 1985), instalado na entrada do Parque Ibirapuera, na zona sul. Com seis metros de altura por 12 metros de cumprimento, a obra desenhada pelo arquiteto Ricardo Ohtake é formada por chapas brancas e uniformes com os nomes de 436 pessoas de todo o país vítimas da ditadura. Outras chapas disformes representam as diferentes trajetórias dos resistentes.

Além ficar próximo de equipamentos públicos utilizados na repressão, como o Doi-Codi localizado na Rua Tutóia, o Ibirapuera também recebe quase 100 mil turistas por dia aos fins de semana, chamando a atenção para a obra. “Acho muito importante que no parque mais visitado da cidade tenhamos um monumento que nos lembre aqueles que lutaram pela liberdade e pela democracia. Acho que é o primeiro monumento do gênero no país, com os nomes de todos os mortos e desaparecidos até para fazer justiça ao sentimento dos brasileiros”, afirmou o prefeito Fernando Haddad.

Realizada no marco dos 50 anos do golpe de 1964, a ação vai ao encontro de uma antiga demanda dos familiares de mortos e desaparecidos políticos e militantes do tema de sinalizar os sítios de memória que marcam a história da resistência. O projeto-executivo do monumento, produzido pela arquiteta Anna Ferrari, foi aprovado pelos diversos órgãos municipais, estaduais e federais que autorizam intervenções urbanas na cidade.

“Os 21 anos não se encerraram. Temos resquícios da ditadura e do autoritarismo ainda presentes, de forma sofrida e doída, na nossa população e nossa sociedade. Por isso, nós precisamos de muitos mais monumentos. Precisamos guardar o que cada um de vocês, familiares, lutadores que dedicaram a vida para que a gente pudesse encerrar esse processo que foi a ditadura no nosso país. Que a gente possa preservar para os que não viveram e para as futuras gerações”, afirmou a ministra-chefe da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência, Ideli Salvatti.

“Esse monumento é um marco histórico, mas é um compromisso de que essa luta contínua, porque a Comissão Nacional da Verdade não irá trazer a resposta de onde estão esses corpos [desaparecidos], de quem os matou e responsabilizar aqueles que mataram. Por isso, acho que essa luta e esse compromisso continuam”, disse a militante Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, que junto com sua família foi presa e torturada durante o regime militar.

Ricardo Ohtake, responsável pelo desenho da obra, também é autor do primeiro monumento a lançar luz sobre o tema, instalado no Cemitério Dom Bosco, em Perus, onde foi encontrada a vala clandestina com mais de mil ossadas de desaparecidos políticos, em 1990.“Ao me convidarem para apresentar o monumento, possibilitaram que colocasse na obra, a luta travada durante a ditadura e que resultou no assassinato e desaparecimento de 436 brasileiros que defenderam a democracia e cujo os nomes estão escritos no monumento”, disse Ohtake.

A iniciativa é da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, por meio da Coordenação de Políticas de Direito à Memória e à Verdade, e tem como objetivo estabelecer marcos de memória que simbolizem a luta pela democracia na cidade, como previsto na meta 64 do Programa de Metas. A instalação da obra integra as ações do Segundo Festival Direitos Humanos – Cidadania nas Ruas, que será realizado entre 8 e 12 de dezembro como parte das comemorações pelo Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado no dia 10.

“Com tantos logradouros e equipamentos públicos que ainda nos remetem a anti-heróis da ditadura, fica latente que nossa cidade carece de marcos que valorizem as vidas desses militantes, duas trajetórias e suas memórias”, afirmou o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili.

Fonte: CUT


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