Direito à moradia, à saúde, ao trabalho digno e à educação foram algumas das principais pautas reivindicadas por movimentos populares que ocuparam o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP) na noite da última quinta-feira (25). Organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o ato reuniu milhares de pessoas de diversas ocupações e de outros coletivos de esquerda. O objetivo: pressionar o governo para o lançamento do programa “Minha Casa, Minha Vida 3”. “Não viemos pedir, porque direito não se pede. Nós viemos exigir o que o governo prometeu aos trabalhadores”, disse, de cima do carro de som, o líder do movimento, Guilherme Boulos.

Apesar de a casa própria ser a principal e a mais árdua luta, os militantes do MTST têm claro os próximos passos na conquista dos direitos básicos de todo cidadão. “O que vem depois? A luta pelo transporte, saúde e educação de qualidade”, afirmou José Carlos, 43 anos, um dos porta-vozes do grupo na manifestação.

Como um importante instrumento de garantia de cidadania, o acesso à educação foi um dos temas levantados durante a passeata, que saiu da avenida Paulista em direção ao Largo da Batata, na zona oeste, em um percurso de pouco mais de 6 km. “Há um processo de desmonte completo da educação no país. Para mim, o lema do governo federal, ‘Pátria Educadora’, é uma grande ironia. Mudaria para ‘Pátria Cortadora’”, disse Gabriel Lindenbach, 23 anos, jornalista independente e membro do coletivo Juntos!.

Fundado em 2011, o Juntos! tem a educação como foco de batalha. O grupo costuma se reunir em bairros e instituições de ensino. Uma das atividades principais é a realização de cursinhos populares gratuitos em escolas da periferia da capital paulista. Junto com o grupo Nós da Sul, representavam cerca de 300 pessoas no ato. “Os professores são o alicerce da nossa sociedade, e a educação é a sua base”, disse.

O ato político, que fechou as duas vias da Paulista em sua primeira parada, na frente do escritório da Presidência da República em São Paulo, trouxe pessoas como o professor de história Mauricio Moura, 55 anos, que viajou 85 km em um ônibus vindo de Santos. Aposentado da Petrobras, e membro do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista, Moura viu com bons olhos o povo na rua, defendendo diferentes causas e pautas. “Vejo com dignidade os companheiros do MTST, os professores e os trabalhadores. Vejo com bons olhos todas essas bandeiras vermelhas. O povo lutando e mostrando o que quer”, comentou.

Arrocho na educação

A presidente Dilma Roussef e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foram o principal alvo das críticas dos manifestantes. A ideia de que a população não pode pagar pela crise era unanimidade. O setor da educação, por exemplo, foi um dos mais afetados pelas tesouras do governo federal, que, desde o mês de maio, implementa uma série de medidas conservadoras para tentar salvar a economia. Neste ano, o Ministério da Educação e Ciência (MEC), teve seu orçamento diminuído em 19,3%, que corresponde a uma redução de R$ 9,42 bilhões.

Durante o Fórum Mundial de Educação Profissional, realizado em Olinda (PE), o ministro da pasta, Renato Janine Ribeiro, já havia se pronunciado a respeito do aperto do cinto. “Ninguém gosta de corte, mas é fato que a economia neste momento não está suportando o que gostaríamos de fazer. (...) O fato de um ano ser muito difícil não quer dizer que toda a nossa trajetória será esquecida. Estamos tendo um intervalo, uma interrupção no desenvolvimento, que será retomado".

A conta surgiu no bolso do trabalhador. Em janeiro, o MEC estabeleceu novas regras para a concessão de contratos via Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), com o objetivo de tornar o programa mais eficiente. A decisão do governo diminuiu a quantidade de bolsas oferecidas: foram entregues 252 mil bolsas de estudos, que, somadas as 61,5 mil previstas para o segundo semestre, correspondem a apenas 43% de todos os contratos de 2014.

Para Lindenbach, programas sociais como Fies, Prouni e Pronatec são medidas paliativas importantes, que garantiram não só o acesso ao ensino superior a milhões de brasileiros, mas a inserção desses jovens na sociedade. “No entanto, o Fies também serviu para enriquecer os donos das instituições privadas”, destacou.

Com a presença de várias entidades sindicais e da União Nacional dos Estudantes (UNE), José Carlos, do MTST, sintetizou o significado da marcha: “Quando você dobra várias vezes um cordão, ele vira uma corda, torna-se mais resistente. A única luta que se perde é aquela que se desiste”.

Fonte: Fepesp


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