Por mais que se fale, nesta semana, sobre a importância das mulheres na formação de nossa sociedade e nas disparidades de tratamento que enfrentam profissional e socialmente, ainda será pouco quando se abre o tema com foco em nossa categoria. Na educação privada de São Paulo somos, na maioria, mulheres. As professoras ocupam praticamente nove em cada dez cadeiras no ensino básico, em São Paulo; no ensino superior e no técnico, a proporção chega a 75% do professorado.

Temos orgulho de nossas professoras. Ficamos particularmente animados quando vemos sua participação maciça, entusiasmada, nas reuniões e assembleias desta nossa campanha salarial de 2016.

No entanto, quando lutamos por melhores condições de trabalho e por um reajuste justo para a nossa categoria, temos que lembrar que, além do negociado, precisamos também estar atentos para condições particulares, que afetam as professoras no seu dia-a-dia. As professoras ainda enfrentam baixo reconhecimento de seu papel na sociedade: "A sociedade identifica o trabalho da professora com o de uma mãe e, para ser atenciosa, delicada, meiga, de acordo com os valores culturais, não é preciso qualificação profissional", indica um estudo recente da socióloga Magda de Almeida Neves, da PUC-MG. "Tudo isso contribui para o baixo reconhecimento do papel da professora", ela conclui.

Talvez seja essa a percepção que ainda permeia as relações profissionais entre escolas e professoras, que revela algumas lacunas salariais a serem preenchidas na comparação de ganhos entre professoras e professores na rede privada. A consultoria de RH Catho, especializada na elaboração de perfis profissionais e pesquisa de salários, estima que, no ensino superior, há uma defasagem de 15,7% entre os salários do corpo docente feminino e masculino. As professoras ainda recebem menos, em média, que os seus colegas professores. Em outro estudo, este da pesquisadora Ana Lucia Kassouf (Esalq-USP), há uma pista para esse descompasso: “A maior parte deste diferencial se deve a questões não observadas [nos quesitos específicos do estudo], dentre as quais, a discriminação”.

A discriminação, um veneno social, é algo que deve ser combatido no todo da nossa sociedade. Profissionalmente, não somos caso isolado. Relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC, em novembro passado, mostra que o salário médio de uma mulher brasileira com educação superior representa 62% que o de um homem com a mesma escolaridade. As professoras do ensino privado refletem essa distorção geral no quadro profissional brasileiro.

E é por isso que, especificamente agora, em que estamos em uma campanha salarial das mais especiais, o empenho da professora vai ser especialmente relevante. Do lado patronal, a ´crise´ é a desculpa para procurar enfraquecer nossas reivindicações. Mas sabemos pensar de forma ampla, e no prazo longo: neste dia da Mulher, queremos lembrar que as professoras tem papel fundamental no futuro do país, e que lutamos não só pela categoria mas pela qualidade do nosso ensino.


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