Em mais um ato pela defesa da democracia, desta vez organizado pela Frente ABC Contra O Golpe, em São Bernardo do Campo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a apontar o caráter golpista do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (4).
Para cerca de cinco mil pessoas, que se reuniram diante da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula falou sobre a atitude irresponsável de paralisar o país em nome de um projeto de poder.
“Se é verdade que o impeachment está na Constituição, também é verdade que só pode ser colocado quando há crime de responsabilidade e a Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Eles (golpistas) é que estão cometendo ao tentar chegar ao poder sem disputar eleição e sem respeitar o voto popular que elegeu a Dilma”, falou o ex-presidente.
Para Lula, o que amedronta os setores conservadores é justamente a continuidade de um modelo pautado pelo desenvolvimento com distribuição de renda.
“O país tem 500 anos e só temos 31 anos de democracia. Mas setores conservadores já se cansaram da democracia, não porque não seja boa, mas porque permitiu que, sem dar um único tiro, fizéssemos a mais importante revolução social da história desse país. O que deixa eles horrorizados é a possiblidade de o Lula voltar em 2018”, falou.
Lula voltou a alertar sobre as consequências do acirramento do ódio a partir do clima criado para desestabilizar o país. “Estavam abrindo champanhe em Minas Gerais, quando o Nordeste, que um cientista político chamou de ignorante e atrasado (referindo-se a Fernando Henrique Cardoso), convocou Dilma para cumprir seu mandato. E, a partir dai, eles passaram a infernizar esse país. O que estão fazendo é não deixar a Dilma governar, é criar todo tipo de caso para o caos. Mais grave, estão destilando o ódio. Nunca vi o ódio que está estabelecido contra o PT, contra os trabalhadores.”
O ex-presidente sugeriu que movimentos como a CUT questionem de onde vêm os recursos utilizados pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para a campanha pelo golpe.
“Paulo Skaf está fazendo campanha pública na Paulista e o movimento sindical precisa perguntar se aquele é dinheiro público do sistema ‘S’. O movimento sindical deve cobrar, porque sistema ‘S’ cobra 2,5% da folha de pagamento para se sustentar”, ressaltou.
Mudanças econômicas e mais diálogo
Enquanto, por um lado, Lula falou à militância sobre a importância de defender a democracia, por outro, como ministro convocado para a Casa Civil por Dilma, tratou de apontar que enxerga necessidade de ampliar o diálogo com movimentos como a CUT e de mudanças nos rumos da política econômica.
“Quando cheguei ao governo, saímos de 2 milhões para 3 milhões de veículos vendidos ao ano. Colocamos mais de 100 mil trabalhadores dentro dessa categoria e estamos perdendo outra vez. Por isso, disse para a Dilma, venho pra cá, mas é preciso dar uma consertada na política econômica. É importante saber conversar com mercado, mas nosso mercado é o povo trabalhador, o povo consumidor, a dona de casa. É para esses que devemos governar prioritariamente.”
Ao mostrar que não acredita em possibilidade de conciliação, Lula afirmou que, a determinados setores, quanto mais se agrada, mais toma bordoada e aproveitou para lembrar o tratamento que sempre teve da velha mídia, ainda pior neste momento de crise.
“Primeira capa que ganhei da Veja foi quando, em 1980, fui cassado e tirado do sindicato. Não lembro de uma capa boa que a Veja me deu. Minha sorte é que está ficando cada vez mais magra, porque o povo também está aprendendo a discernir o que é verdade e mentira. Os meios de comunicação que deveriam ser para informar com sobriedade, hoje estão ocupados em desinformar e provocar o caos”, afirmou.
Recado a Temer
O ex-presidente relembrou como a democracia foi capaz de uma transformação na cara da América Latina e voltou a mandar um recado a ao atual vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP): quem quer assumir o posto, tem que ganhar nas urnas.
“A democracia permite que pessoas como eu, como Evo Morales, um índio genuíno, seja presidente da Bolívia, que um negro seja presidente dos EUA, que uma mulher seja presidente da Argentina, que Pepe Mujica, após 14 anos preso, sete desses dentro de uma solitária, seja presidente do Uruguai. Não tenho nada contra Michel Temer, mas quem quer ser presidente, disputa eleição. Vai para rua pedir voto, esse negócio de encurtar caminho para chegar lá não dá certo.”