Entre os documentos sob a guarda do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, estava a carta assinada pela regente do Império do Brasil em 1888, a princesa Isabel, enquanto seu pai, Dom Pedro II, viajava pela Europa. Era o decreto de 13 de maio daquele ano, que abolia a escravidão no país. Desse documento, agora, resta apenas uma foto. O original, queimado, desapareceu no incêndio da noite de domingo, dia 2.
Desapareceu também o fóssil carinhosamente chamado de Luzia, de uma pessoa que andou por aqui há pelo menos doze mil anos e ajudou a reescrever a história da ocupação das Américas pelos Sapiens. Foram queimadas a primeira edição de Os Lusíadas, de 1572, e a gramática do Padre Anchieta, de 1595. Com exceção do meteorito Bendengó, achado na Bahia em 1892, queimou tudo no prédio onde foi assinada a Independência do Brasil.
O incêndio queimou parte importante de nossa história, de nossa identidade nacional. A causa ainda não foi apurada, mas as evidências não deixam dúvida sobre o descaso recente sobre nosso patrimônio, sobre os bens que nos identificam como povo. Não havia dinheiro para cuidar do museu: os orçamentos federais foram congelados por vinte anos com a emenda constitucional 95 - a emenda do teto dos gastos públicos, de 2016 – apesar de todos os alertas emitidos sobre o prejuízo que a medida provocaria na nossa cultura, educação, saúde, segurança, infraestrutura. No futuro do Brasil.
Pouco ajudou, nesse cenário, a desorganização completa do estado do Rio de Janeiro, que abriga o que resta do Museu. Não havia água para apagar o fogo, na hora dramática.
Ao desânimo, somamos nossa indignação. Mas lembrando o poeta que resumiu em frase que a coragem é nada menos que a dignidade sob pressão, recomendamos, urgimos por ainda mais coragem. Por ainda mais resistência aos que tentam colocar o Brasil de joelhos, que desprezam seu povo em troca apenas da conveniência do lucro imediato.
Não iremos esquecer. Haverá futuro. Havemos de prevalecer.
Federação dos Professores do Estado de São Paulo