Um estudo publicado nesta terça-feira (7) pelo Instituto de Estatística da Unesco (IEU) revela que o número de crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 15 anos, que nunca foram à escola ou a abandonaram por diversos motivos chegou a 124 milhões. Além disso, a organização também estima que outras 24 milhões de crianças jamais terão a oportunidade de entrar em uma sala de aula.
Estes números são uma recordação amarga de que ainda não foi cumprida a promessa estabelecida no início do século 21 pela comunidade internacional, a qual, até 2015, todas as crianças teriam garantidas seu acesso à educação básica.
O relatório aponta, ainda, que as meninas têm menos acesso à educação básica. Os esforços para reduzir a disparidade no acesso à educação básica entre meninos e meninas enfraqueceram nos últimos anos. Ainda que as diferenças sejam menores do que no início dos anos 2000, os dados do IEU mostram que houve poucas melhoras nos anos mais recentes, apesar das inúmeras campanhas e iniciativas destinadas a eliminar os obstáculos que ainda impedem, às garotas, o acesso à educação. De cada 10 meninas, uma está fora da sala de aula, enquanto que essa proporção para os meninos é de um a cada 12.
Duas razões contribuíram para explicar o recente aumento do número de crianças e adolescentes fora da escola. A primeira é que, nos países da África subsaariana, a população em idade escolar aumentou significativamente, e a demanda por vagas nas instituições de ensino superou a escassa oferta. A outra diz respeito à ineficiência, a longo prazo, de estratégias adotadas pela comunidade internacional que financiou programas globais de acesso à educação. De acordo com o relatório, o que é preciso, na verdade, é de intervenções específicas em cada país para que a política pública atinja diretamente as crianças e jovens mais marginalizados, principalmente entre eles aqueles que são deficientes, que pertencem a minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, e às crianças afetadas por conflitos armados.
A maior parte das crianças e jovens não escolarizados vive em um número reduzido de países: 19. Entre eles, os que mais negam o direito à educação são a República Árabe Síria, o Sudão, o Paquistão e a Nigéria, países com histórico de conflitos civis e onde grupos terroristas como o Boko Haram e o Estado Islâmico aterrorizam a população. Em 2013, das 59 milhões de crianças em idade escolar que não frequentavam uma instituição de ensino, 30 milhões viviam na África subsaariana e 10 milhões na Ásia.
Educação até 2030
Se no ano 2000 os países se comprometeram (e fracassaram) em garantiv educação universal, o novo programa aprovado no Fórum Mundial sobre Eduacação, realizado em maio deste ano na Córeia do Sul, exigirá ainda mais responsabilidade da comunidade internacional. Para que a nova meta de garantir acesso à uma escola até 2030 seja alcançada, a UNESCO estima que milhões de dólares devem ser investidos em programas especializados nos países mais carentes. E a organização aponta que os maiores doadores históricos (como a União Europeia e o Banco Mundial) têm se comprometido cada vez menos com o setor.
A diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, disse, na manhã desta terça-feira (7) pelo Twitter, que "a educação é um bem público". "O acesso à educação básica deve ser direito de toda criança", escreveu.
Fonte: Fepesp