Mercado de ensino ganha novos consolidadores
Por De São Paulo
Dois grandes grupos consolidadores de ensino superior - a Anhanguera e a Kroton - não pretendem fazer aquisições relevantes pelo menos até o fim do ano para integrar suas últimas negociações. A Anhanguera comprou a Uniban e a Kroton adquiriu a Unopar e Uniasselvi. As três transações movimentaram mais de R$ 2,3 bilhões, entre setembro e maio.
Com essa espécie de "sabático" por parte dos dois grupos, abre-se uma oportunidade para outras instituições de ensino com apetite para aquisições, mas que teriam mais dificuldades para concorrer com a Anhanguera e a Kroton.
Entre as instituições de ensino estreantes no que diz respeito a fusões e aquisições estão, por exemplo, os grupos Anima e Cruzeiro do Sul.
Em janeiro, o Cruzeiro do Sul Educacional vendeu 37% do seu capital para a gestora inglesa de fundos de private equity Actis por R$ 180 milhões. Uma parte desse aporte já foi revertido para aquisição da Unicid, faculdade paulistana com 14 mil alunos. A outra parte dos recursos será destinada à compra de outras faculdades, segundo Hermes Figueiredo, um dos fundadores e presidente do Cruzeiro do Sul. Figueiredo e a família Padovese ainda detêm pouco mais de 30% do capital, cada um.
Já a instituição de ensino mineira Anima também recebeu, há três meses, um aporte de R$ 100 milhões da gestora BR Investimentos, do economista Paulo Guedes. Com esses recursos, o Anima planeja agregar outras instituições de ensino a sua holding, oferecendo troca de ações e pagamento em dinheiro. (BK)
Dois grandes grupos consolidadores de ensino superior - a Anhanguera e a Kroton - não pretendem fazer aquisições relevantes pelo menos até o fim do ano para integrar suas últimas negociações. A Anhanguera comprou a Uniban e a Kroton adquiriu a Unopar e Uniasselvi. As três transações movimentaram mais de R$ 2,3 bilhões, entre setembro e maio.

Com essa espécie de "sabático" por parte dos dois grupos, abre-se uma oportunidade para outras instituições de ensino com apetite para aquisições, mas que teriam mais dificuldades para concorrer com a Anhanguera e a Kroton.

Entre as instituições de ensino estreantes no que diz respeito a fusões e aquisições estão, por exemplo, os grupos Anima e Cruzeiro do Sul.

Em janeiro, o Cruzeiro do Sul Educacional vendeu 37% do seu capital para a gestora inglesa de fundos de private equity Actis por R$ 180 milhões. Uma parte desse aporte já foi revertido para aquisição da Unicid, faculdade paulistana com 14 mil alunos. A outra parte dos recursos será destinada à compra de outras faculdades, segundo Hermes Figueiredo, um dos fundadores e presidente do Cruzeiro do Sul. Figueiredo e a família Padovese ainda detêm pouco mais de 30% do capital, cada um.

Já a instituição de ensino mineira Anima também recebeu, há três meses, um aporte de R$ 100 milhões da gestora BR Investimentos, do economista Paulo Guedes. Com esses recursos, o Anima planeja agregar outras instituições de ensino a sua holding, oferecendo troca de ações e pagamento em dinheiro. (BK)

Fonte: Valor Econômico

MERCADANTE DIZ QUE PNE PRECISA INDICAR NOVAS FONTES DE FINANCIAMENTO PARA A EDUCAÇÃO
Para o ministro, essa tarefa é difícil de ser cumprida porque significaria dobrar o orçamento do MEC
Fonte: Agência Brasil
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu hoje (3) que o Plano Nacional de Educação (PNE) precisa identificar quais serão as novas fontes de recursos que irão custear o aumento dos investimentos na área.
O projeto foi aprovado pela Câmara na última semana e agora segue para o Senado. Ele determina que o país deverá ampliar os investimento em educação até chegar a 10% do Produto Interno Brito (PIB) no prazo de dez anos.
Para o ministro, essa tarefa é difícil de ser cumprida porque significaria dobrar o orçamento do MEC. “O MEC está muito à vontade porque nós somos os beneficiários dessa expansão. Mas temos que falar as coisas com profundidade para que não seja uma diretriz sem implantação”.
A proposta apresentada pelo governo era de um investimento de 7,5% do PIB – atualmente o país investe 5,1%. Mas os movimentos sociais e parlamentares da comissão especial criada para analisar a matéria pressionaram o relator e conseguiram aprovar a meta de 10% do PIB.
Na avaliação do ministro, não há espaço para criação de novos impostos que possam financiar essa expansão. Por isso seria necessário retirar dinheiro de outras áreas. Ele defende que os recursos da exploração do Pré-Sal podem ser uma fonte importante para o financiamento da educação.
“O Congresso não especificou as fontes. Como você vai fazer esse investimento?”, questionou. O ministro disse que alguns pontos do projeto de lei que cria o PNE precisam ser aprimorados e espera a discussão da matéria no Senado para que o debate seja aprofundado.
O PNE estabelece 20 metas educacionais que o país deverá atingir no prazo de dez anos. Além do aumento no investimento em educação pública, o plano prevê a ampliação das vagas em creches, a equiparação da remuneração dos professores com a de profissionais com formação superior, a erradicação do analfabetismo e a oferta do ensino em tempo integral em pelo menos 50% das escolas públicas. Todos esses objetivos deverão ser alcançados no prazo de dez anos a partir da sanção presidencial.
Para o ministro, essa tarefa é difícil de ser cumprida porque significaria dobrar o orçamento do MEC

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu hoje (3) que o Plano Nacional de Educação (PNE) precisa identificar quais serão as novas fontes de recursos que irão custear o aumento dos investimentos na área.

O projeto foi aprovado pela Câmara na última semana e agora segue para o Senado. Ele determina que o país deverá ampliar os investimento em educação até chegar a 10% do Produto Interno Brito (PIB) no prazo de dez anos.

Para o ministro, essa tarefa é difícil de ser cumprida porque significaria dobrar o orçamento do MEC. “O MEC está muito à vontade porque nós somos os beneficiários dessa expansão. Mas temos que falar as coisas com profundidade para que não seja uma diretriz sem implantação”.

A proposta apresentada pelo governo era de um investimento de 7,5% do PIB – atualmente o país investe 5,1%. Mas os movimentos sociais e parlamentares da comissão especial criada para analisar a matéria pressionaram o relator e conseguiram aprovar a meta de 10% do PIB.

Na avaliação do ministro, não há espaço para criação de novos impostos que possam financiar essa expansão. Por isso seria necessário retirar dinheiro de outras áreas. Ele defende que os recursos da exploração do Pré-Sal podem ser uma fonte importante para o financiamento da educação.

“O Congresso não especificou as fontes. Como você vai fazer esse investimento?”, questionou. O ministro disse que alguns pontos do projeto de lei que cria o PNE precisam ser aprimorados e espera a discussão da matéria no Senado para que o debate seja aprofundado.

O PNE estabelece 20 metas educacionais que o país deverá atingir no prazo de dez anos. Além do aumento no investimento em educação pública, o plano prevê a ampliação das vagas em creches, a equiparação da remuneração dos professores com a de profissionais com formação superior, a erradicação do analfabetismo e a oferta do ensino em tempo integral em pelo menos 50% das escolas públicas. Todos esses objetivos deverão ser alcançados no prazo de dez anos a partir da sanção presidencial.

O Ministério da Educação (MEC) publicou hoje (5) portaria no Diário Oficial da União estabelecendo as regras do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). O programa que será lançado em breve tem como objetivo garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos de idade. Redes municipais e estaduais terão que aderir ao programa para poder receber recursos e o apoio técnico do MEC.
Entre as ações previstas no programa estão a capacitação dos professores alfabetizadores, o pagamento de bolsas aos docentes e a distribuição de materiais didáticos específicos para alfabetização. Outra medida será a criação de uma prova que será aplicada a todos os alunos do 3º ano do ensino fundamental para medir o nível de alfabetização.
Até hoje o país não tinha um exame oficial para medir se as crianças estavam sendo alfabetizadas ou não na idade correta. Iniciativa semelhante já foi feita pelo Movimento Todos pela Educação que, em 2011, aplicou a primeira edição da Prova ABC.Em caráter amostral, o exame apontou que mais de 40% dos alunos que concluíram o 3° ano do ensino fundamental não tinham a capacidade de leitura esperada para esse nível de ensino.
As duas avaliações aplicadas atualmente pelo MEC aos alunos do ensino fundamental não aferiam essa informação. A Prova Brasil tem como público-alvo os alunos do 5º ano do ensino fundamental. Já a Provinha Brasil, aplicada no 2º ano, era uma ferramenta de uso interno das escolas para que cada professor pudesse acompanhar o desenvolvimento dos estudantes. Com o Pnaic, as escolas deverão informar ao MEC os resultados da Provinha a partir de um sistema que será desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
O Ministério da Educação (MEC) publicou hoje (5) portaria no Diário Oficial da União estabelecendo as regras do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). O programa que será lançado em breve tem como objetivo garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos de idade. Redes municipais e estaduais terão que aderir ao programa para poder receber recursos e o apoio técnico do MEC.

Entre as ações previstas no programa estão a capacitação dos professores alfabetizadores, o pagamento de bolsas aos docentes e a distribuição de materiais didáticos específicos para alfabetização. Outra medida será a criação de uma prova que será aplicada a todos os alunos do 3º ano do ensino fundamental para medir o nível de alfabetização.

Até hoje o país não tinha um exame oficial para medir se as crianças estavam sendo alfabetizadas ou não na idade correta. Iniciativa semelhante já foi feita pelo Movimento Todos pela Educação que, em 2011, aplicou a primeira edição da Prova ABC.Em caráter amostral, o exame apontou que mais de 40% dos alunos que concluíram o 3° ano do ensino fundamental não tinham a capacidade de leitura esperada para esse nível de ensino.

As duas avaliações aplicadas atualmente pelo MEC aos alunos do ensino fundamental não aferiam essa informação. A Prova Brasil tem como público-alvo os alunos do 5º ano do ensino fundamental. Já a Provinha Brasil, aplicada no 2º ano, era uma ferramenta de uso interno das escolas para que cada professor pudesse acompanhar o desenvolvimento dos estudantes. Com o Pnaic, as escolas deverão informar ao MEC os resultados da Provinha a partir de um sistema que será desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

SENADORES APROVAM ABERTURA DE CRECHES E PRÉ-ESCOLAS DURANTE FÉRIAS
O projeto de lei que prevê a abertura desses estabelecimentos durante o recesso escolar foi aprovado, em caráter terminativo, pela Comissão de Educação e agora segue para a análise da Câmara dos Deputados
Fonte: Agência Brasil
O Senado deu andamento hoje (3) à possibilidade de pais e mães que têm filhos com idade de até 5 anos manterem as crianças em creches e estabelecimentos públicos de educação infantil, nos períodos de férias escolares. O projeto de lei que prevê a abertura desses estabelecimentos durante o recesso escolar foi aprovado, em caráter terminativo, pela Comissão de Educação e agora segue para a análise da Câmara dos Deputados.
O principal argumento colocado pela autora do projeto, senadora Angela Portela (PT-RR), é o fato de nem sempre os pais terem condições de tirar férias no mesmo período previsto no calendário do ano letivo dos filhos. Nas férias, de acordo com a proposta, as crianças frequentarão as creches ou escolas no mesmo horário a que estão habituados.
O projeto de lei estabelece que a medida não poderá implicar em nenhum prejuízo aos direitos trabalhistas dos profissionais de educação. Também prevê “os devidos acréscimos em suas remunerações pela carga adicional de trabalho”, destaca a senadora.
Se o projeto for aprovado pela Câmara, sem alterações, e sancionado pelo presidente da República, a nova lei entra em vigor 90 dias após a publicação no Diário Oficial da União.
O projeto de lei que prevê a abertura desses estabelecimentos durante o recesso escolar foi aprovado, em caráter terminativo, pela Comissão de Educação e agora segue para a análise da Câmara dos Deputados

O Senado deu andamento hoje (3) à possibilidade de pais e mães que têm filhos com idade de até 5 anos manterem as crianças em creches e estabelecimentos públicos de educação infantil, nos períodos de férias escolares. O projeto de lei que prevê a abertura desses estabelecimentos durante o recesso escolar foi aprovado, em caráter terminativo, pela Comissão de Educação e agora segue para a análise da Câmara dos Deputados.

O principal argumento colocado pela autora do projeto, senadora Angela Portela (PT-RR), é o fato de nem sempre os pais terem condições de tirar férias no mesmo período previsto no calendário do ano letivo dos filhos. Nas férias, de acordo com a proposta, as crianças frequentarão as creches ou escolas no mesmo horário a que estão habituados.

O projeto de lei estabelece que a medida não poderá implicar em nenhum prejuízo aos direitos trabalhistas dos profissionais de educação. Também prevê “os devidos acréscimos em suas remunerações pela carga adicional de trabalho”, destaca a senadora.

Se o projeto for aprovado pela Câmara, sem alterações, e sancionado pelo presidente da República, a nova lei entra em vigor 90 dias após a publicação no Diário Oficial da União.

Fonte: Agência Brasil

15,2% DAS CRIANÇAS BRASILEIRAS CHEGAM AOS OITO ANOS DE IDADE SEM ALFABETIZAÇÃO
Alfabetização tardia pode gerar descompasso entre idade e aprendizagem e comprometer vida escolar. Para Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação, se a alfabetização na idade certa não for assegurada, outras etapas de ensino não evoluirão
Fonte: Portal Porvir
A taxa de crianças brasileiras que chegam aos oito anos de idade sem estarem alfabetizadas é de 15,2%. Para educadores, a alfabetização tardia pode gerar um descompasso entre idade e aprendizagem e comprometer toda a vida escolar do estudante. O Ministério da Educação lança um grande pacto nacional para “atacar o problema na raiz”. Confira, a seguir, o diagnóstico e a série de propostas sobre letramento e numeramento trazidas pelo Ministro Aloizio Mercadante, por especialistas e pelos participantes do primeiro evento da Série de Diálogos O Futuro se Aprende, que discutiu os desafios da educação pública brasileira.
O que disse o Ministro:
Diagnóstico
- 15,2% das crianças chegam aos oito anos sem estarem alfabetizadas;
- Entre os estados brasileiros, as taxas são muito desiguais. No Paraná, esse número é de 4,9%, enquanto que no Nordeste a média é de 28%. “No Nordeste, tem 1/3 da sala de aula para o qual a professora não olha. O pedaço que não aprendeu a ler e escrever junto com os outros fica de fora”.
- Os problemas no segundo ciclo do fundamental e no ensino médio são reflexo de uma alfabetização deficitária. “Se não valorizarmos a alfabetização, os indicadores do ensino médio não vão melhorar. Se não atacarmos o problema na raiz, dificilmente teremos melhora no Ideb”.
Ações e Intenções
- Implantar o Pnaic (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), cujo foco é alfabetizar as crianças até os oito anos de idade. “O grande desafio do Ministério, depois do Brasil Carinhoso [iniciativa do Governo Federal voltada à primeira infância], é lançar o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.”
- Capacitar e valorizar os 315 mil professores alfabetizadores do país. Os melhores professores alfabetizadores da rede serão convidados a capacitar os seus pares. “Os alfabetizadores têm que ser os melhores. Temos que premiar os melhores. O bônus, inclusive, pode ser em dinheiro.”
- Produzir material diversificado e adequado. “Vamos apresentar um volume de material pedagógico bem mais consistente e plural.”
- Avaliar a habilidade de alunos de 7 ou 8 anos na leitura, escrita e nas primeiras contas. “Nossa intenção não é punir a escola, nem expor a criança, mas saber o que não está avançando.”
Propostas
“No Brasil, 15 milhões de pessoas não são alfabetizadas. Há urgência de que o programa nacional supere as campanhas de alfabetização, que são insuficientes.”
Denise Carreira
Ação Educativa
“Se não assegurarmos a alfabetização na idade certa, não vamos conseguir evoluir nas outras etapas do ensino. Colocar o foco na alfabetização organiza o trabalho de todo mundo. Acho que a proposta maior seria assegurar que os planos fossem implementados. Existem muitos planos no Ministério, mas poucos saem do gabinete e são realizados com excelência. É preciso garantir que esses planos sejam colocados em prática, avaliando, corrigindo, reavaliando. As pessoas também precisam continuar insistindo, sem desanimar, usando os erros para corrigir os rumos. Isso vale para o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.”
Priscila Cruz
Todos pela Educação
“Os planos para alfabetização precisam levar em consideração três pontos. O primeiro: que a escrita seja trabalhada em sala de aula, desde cedo, com os usos e as funções que ela tem na sociedade. Segundo: que incluam atividades em que a criança possa focalizar sua atenção nas palavras, na relação entre som e grafia, ter consciência fonológica etc. E o terceiro: que o professor tenha um roteiro de atividades estruturado.”
Sonia Madi
Olimpíada de Língua Portuguesa
“O mais importante é que a gente tenha um material de qualidade e estruturado, tanto para professores quanto para alunos. Quanto mais lúdico e divertido esse material for, inclusive se ele puder usar as novas tecnologias, melhor vai ser para alunos e professores, porque o aprendizado vai ser mais motivante e, com certeza, as informações aprendidas ficarão na memória de longo prazo dos alunos.”
Rafael Parente
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
“Primeiro, quando se fala em alfabetização, não se pode esquecer da dimensão do numeramento. Segundo, precisamos lembrar que é necessária uma preocupação continuada com o letramento e o numeramento mesmo após o 3o ano do ensino fundamental. É bom que haja um foco na alfabetização, mas não se pode assumir que esse ciclo será 100% eficaz. É preciso reforçar o ensino também no 4 o e 5 o anos, para que a criança chegue no fundamental II, com domínio real dessas habilidades.”
Ana Lima
Instituto Paulo Montenegro
“Para que as crianças de 8 anos estejam plenamente alfabetizadas é necessário que a cadeia de responsáveis pelo ensino público se engaje realmente. Os técnicos das Secretarias, os diretores e coordenadores pedagógicos das escolas e seus professores precisam compreender os processos pelos quais as crianças aprendem e a partir dai passem a criar condições didáticas favoráveis à aprendizagem. Para isto investir em formação continuada atrelada ao que acontece nas salas de aulas, com foco nas aprendizagens é condição prioritária. Além disso as universidades que formam professores necessitam rever suas prioridades e focar nas necessidades de ensino e aprendizagem dos alunos e das escolas.”
Silvia Pereira de Carvalho
Coordenadora Instituto Avisa Lá
“Para quase todas as esferas do processo de ensino e aprendizagem, é preciso ter uma perspectiva sistêmica e estruturada. Para a alfabetização não é diferente. Esta deveria ser tratada como uma prioridade para o desenvolvimento do país como ocorre com assuntos estratégicos em outras áreas: investimento técnico consistente para produção de know-how qualificado. O assunto é sério demais para ser tratado com base em palpites ou soluções parciais. Responder a tais demandas – numa perspectiva democrática em que se dê oportunidade para todas as crianças – implica em considerar o conhecimento técnico acumulado neste campo e reconhecer os limites e possibilidades das redes públicas como base para a formulação de programas articulados e consistentes.”
Beatriz Cardoso
Comunidade Educativa CEDAC
Alfabetização tardia pode gerar descompasso entre idade e aprendizagem e comprometer vida escolar. Para Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação, se a alfabetização na idade certa não for assegurada, outras etapas de ensino não evoluirão

A taxa de crianças brasileiras que chegam aos oito anos de idade sem estarem alfabetizadas é de 15,2%. Para educadores, a alfabetização tardia pode gerar um descompasso entre idade e aprendizagem e comprometer toda a vida escolar do estudante. O Ministério da Educação lança um grande pacto nacional para “atacar o problema na raiz”. Confira, a seguir, o diagnóstico e a série de propostas sobre letramento e numeramento trazidas pelo Ministro Aloizio Mercadante, por especialistas e pelos participantes do primeiro evento da Série de Diálogos O Futuro se Aprende, que discutiu os desafios da educação pública brasileira.

O que disse o Ministro:
Diagnóstico
- 15,2% das crianças chegam aos oito anos sem estarem alfabetizadas;
- Entre os estados brasileiros, as taxas são muito desiguais. No Paraná, esse número é de 4,9%, enquanto que no Nordeste a média é de 28%. “No Nordeste, tem 1/3 da sala de aula para o qual a professora não olha. O pedaço que não aprendeu a ler e escrever junto com os outros fica de fora”.
- Os problemas no segundo ciclo do fundamental e no ensino médio são reflexo de uma alfabetização deficitária. “Se não valorizarmos a alfabetização, os indicadores do ensino médio não vão melhorar. Se não atacarmos o problema na raiz, dificilmente teremos melhora no Ideb”.

Ações e Intenções
- Implantar o Pnaic (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), cujo foco é alfabetizar as crianças até os oito anos de idade. “O grande desafio do Ministério, depois do Brasil Carinhoso [iniciativa do Governo Federal voltada à primeira infância], é lançar o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.”
- Capacitar e valorizar os 315 mil professores alfabetizadores do país. Os melhores professores alfabetizadores da rede serão convidados a capacitar os seus pares. “Os alfabetizadores têm que ser os melhores. Temos que premiar os melhores. O bônus, inclusive, pode ser em dinheiro.”
- Produzir material diversificado e adequado. “Vamos apresentar um volume de material pedagógico bem mais consistente e plural.”
- Avaliar a habilidade de alunos de 7 ou 8 anos na leitura, escrita e nas primeiras contas. “Nossa intenção não é punir a escola, nem expor a criança, mas saber o que não está avançando.”

Propostas
“No Brasil, 15 milhões de pessoas não são alfabetizadas. Há urgência de que o programa nacional supere as campanhas de alfabetização, que são insuficientes.”
Denise Carreira
Ação Educativa

“Se não assegurarmos a alfabetização na idade certa, não vamos conseguir evoluir nas outras etapas do ensino. Colocar o foco na alfabetização organiza o trabalho de todo mundo. Acho que a proposta maior seria assegurar que os planos fossem implementados. Existem muitos planos no Ministério, mas poucos saem do gabinete e são realizados com excelência. É preciso garantir que esses planos sejam colocados em prática, avaliando, corrigindo, reavaliando. As pessoas também precisam continuar insistindo, sem desanimar, usando os erros para corrigir os rumos. Isso vale para o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.”
Priscila Cruz
Todos pela Educação

“Os planos para alfabetização precisam levar em consideração três pontos. O primeiro: que a escrita seja trabalhada em sala de aula, desde cedo, com os usos e as funções que ela tem na sociedade. Segundo: que incluam atividades em que a criança possa focalizar sua atenção nas palavras, na relação entre som e grafia, ter consciência fonológica etc. E o terceiro: que o professor tenha um roteiro de atividades estruturado.”
Sonia Madi
Olimpíada de Língua Portuguesa

“O mais importante é que a gente tenha um material de qualidade e estruturado, tanto para professores quanto para alunos. Quanto mais lúdico e divertido esse material for, inclusive se ele puder usar as novas tecnologias, melhor vai ser para alunos e professores, porque o aprendizado vai ser mais motivante e, com certeza, as informações aprendidas ficarão na memória de longo prazo dos alunos.”
Rafael Parente
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro

“Primeiro, quando se fala em alfabetização, não se pode esquecer da dimensão do numeramento. Segundo, precisamos lembrar que é necessária uma preocupação continuada com o letramento e o numeramento mesmo após o 3o ano do ensino fundamental. É bom que haja um foco na alfabetização, mas não se pode assumir que esse ciclo será 100% eficaz. É preciso reforçar o ensino também no 4 o e 5 o anos, para que a criança chegue no fundamental II, com domínio real dessas habilidades.”
Ana Lima
Instituto Paulo Montenegro

“Para que as crianças de 8 anos estejam plenamente alfabetizadas é necessário que a cadeia de responsáveis pelo ensino público se engaje realmente. Os técnicos das Secretarias, os diretores e coordenadores pedagógicos das escolas e seus professores precisam compreender os processos pelos quais as crianças aprendem e a partir dai passem a criar condições didáticas favoráveis à aprendizagem. Para isto investir em formação continuada atrelada ao que acontece nas salas de aulas, com foco nas aprendizagens é condição prioritária. Além disso as universidades que formam professores necessitam rever suas prioridades e focar nas necessidades de ensino e aprendizagem dos alunos e das escolas.”
Silvia Pereira de Carvalho
Coordenadora Instituto Avisa Lá

“Para quase todas as esferas do processo de ensino e aprendizagem, é preciso ter uma perspectiva sistêmica e estruturada. Para a alfabetização não é diferente. Esta deveria ser tratada como uma prioridade para o desenvolvimento do país como ocorre com assuntos estratégicos em outras áreas: investimento técnico consistente para produção de know-how qualificado. O assunto é sério demais para ser tratado com base em palpites ou soluções parciais. Responder a tais demandas – numa perspectiva democrática em que se dê oportunidade para todas as crianças – implica em considerar o conhecimento técnico acumulado neste campo e reconhecer os limites e possibilidades das redes públicas como base para a formulação de programas articulados e consistentes.”
Beatriz Cardoso
Comunidade Educativa CEDAC

Fonte: Portal Porvir

"Pessoal, hoje vamos trabalhar com o videogame", diz o Professor Daniel Veras a uma turma de 7.ª série da Escola Estadual Oscar Thompson, em São Paulo. É dia de Educação física e o aviso quebra a sonolência da primeira aula da manhã. O tema é atletismo e, em poucos minutos, os Alunos disparam perguntas sobre o peso do martelo, a distância viajada pelo dardo e recordes.
Tradicionalmente vistos como "rivais" da Escola, jogos digitais vêm se popularizando como uma ferramenta para Educadores e aliados das aulas de Educação física ao ajudar Alunos a conhecer novos esportes e, de quebra, driblar a falta de recursos para tratar de alguns conteúdos previstos no currículo Escolar. Embora com ressalvas, os benefícios são atestados por cientistas. O trabalho encontra respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que garante aos Professores liberdade didática.
Foi pesquisando métodos para aplicar conteúdos como saltos e arremessos do atletismo que Veras decidiu inovar - sem deixar as atividades em quadra e o conteúdo da apostila em segundo plano. "Se na Escola a gente não tem como vivenciar um salto em altura, arranjamos um jeito", explica. "Os Alunos não tinham noção de como funcionavam algumas modalidades e se empolgaram."
A ideia, esclarece Veras, era "suprir a necessidade de materiais e espaço" para aplicar o conteúdo, previsto na apostila, mas teve mais efeitos positivos. "O comportamento melhorou e percebi os Alunos mais confiantes."
No Colégio Maxwell, Escola particular da zona norte paulistana, o Professor Marcos Neves também tira proveito da familiaridade dos Alunos com videogames para trabalhar modalidades que vão do futebol de rua à capoeira. Os benefícios, segundo ele, vão muito além do aprendizado. "Alunos que antes se recusavam a participar das dinâmicas de exercícios físicos, mas usaram os jogos, mostraram-se mais sociáveis", observa.
Na Escola municipal Raimundo Correia, em São Miguel, na zona leste de São Paulo, o tae-kwon-do foi a porta de entrada dos videogames nas aulas do Professor Jorge Júnior. Praticante da arte marcial, ele deu início a um programa cujo conteúdo eram lutas. "Até Alunos que não participavam das atividades mostraram maior interesse", nota. "É algo da cultura juvenil, e se a Escola exclui essas tecnologias, fica mais distante dos Alunos."
Linguagem do Aluno. A ideia de introduzir games nas aulas se baseia em pesquisas que estudam a cultura como elemento que influencia o comportamento. Como os Professores têm liberdade pedagógica, a ideia é trazer elementos da vida dos jovens à Escola, explica Mario Nunes, um dos idealizadores do Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar da USP. Ele lembra que a Educação física não trata só do movimento, mas também de colocar jovens e crianças em contato com a teoria e os estudos dos exercícios e esportes.
O presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Steinhilber, concorda. "A Educação física é confundida com condicionamento e prática de exercícios físicos", diz, explicando que a disciplina não é uma iniciação esportiva, e sim uma "oportunidade para o Aluno vivenciar e compreender modalidades. A ferramenta usada vai de acordo com as possibilidades da Escola, da comunidade e do Professor".
Nunes, porém, alerta: "Os jogos não devem servir apenas como atrativo, e sim conservar o objetivo pedagógico, de debater e ensinar. Inserir um elemento desses no currículo não traz mudança se tiver apenas o objetivo de divertir os Alunos".
'Chocolate com brócolis.' Os Alunos não podem pensar na Escola como um local apenas de diversão, concorda a Professora Angela McFarlane, da Universidade de Bristol (Grã-Bretanha), autora do livro Use of Computer and Videogames in the Classroom ("O uso de computadores e videogames na sala de aula", em tradução livre).
Apesar de ser favorável à introdução de ferramentas tecnológicas na Educação, ela lembra que o aprendizado deve ser satisfatório - e não apenas divertido. "Aprender demanda tempo, concentração. É um processo que pode ser difícil, mas é como uma recompensa. O ideal é que a criança se sinta satisfeita com o que aprendeu e reconheça isso como algo relevante", analisa.
Como jogar é divertido - e aprender, nem sempre -, ela compara esse aspecto à "psicologia do brócolis com chocolate": se cobrirmos brócolis com chocolate a criança vai comer? Não, porque é ruim. Da mesma forma, os games atraem atenção e concentração das crianças - mas, se mal utilizados, podem não provocar um aprendizado satisfatório, sem resultados efetivos.
Apesar das ressalvas, Angela concorda que jogos e computadores são aliados da Educação. No quesito interatividade, ela crê que "não há nada como um videogame" e diz que há evidências de que alguns jogos desenvolvem determinadas habilidades e a capacidade das crianças de resolver problemas.
Mas a Professora acredita que o aprendizado é maior quando os Alunos são criadores de conteúdos digitais, e não apenas consumidores. "O ideal é envolver os Alunos no processo de criação, pois isso os ajuda a explicar sua própria compreensão do mundo e usar isso como meio para compartilhar suas ideias."
'É como se fosse uma aula prática'
"Da primeira vez que o Professor propôs usar o videogame, achei que fôssemos só brincar. Mas quando jogamos mesmo, deu pra sentir o impacto que ele tentou provocar. Aprendemos como fazer os movimentos para lançamentos e saltos do atletismo, quais eram as regras, o que pode e o que não pode fazer. É como se fosse uma aula prática, com a diferença que antes a gente observa e ganha uma base para depois fazer na quadra.
A turma acha divertido e gosta porque não é a mesma aula de sempre, com o Professor falando o tempo todo. A gente aprende com os livros e com as explicações, mas na Educação física temos de ter essa parte prática também.
Na Escola, conforme vamos jogando, o Professor explica o que está acontecendo na tela. Quando a gente joga em casa, acaba não prestando atenção nessas coisas.
Seria legal se Professores de outras matérias começassem a dar aulas assim. Nem todos participam, mas acho que ajuda bastante, porque estamos prestando atenção e isso ajuda a memorizar."
'Não há oposição entre games e aprendizado'
Educação e entretenimento podem sim caminhar juntos, segundo o pesquisador dinamarquês Simon Egenfeldt-Nielsen, da Universidade de Tecnologia da Informação de Copenhague e autor do livro Educational Potential of Video Games ("Potencial educacional dos videogames", em tradução livre). Ele defende o uso dos videogames como uma ferramenta para melhorar o aprendizado, mas alerta: "Deve-se ter o cuidado de mostrar que não se trata apenas de diversão", diz Egenfeldt-Nielsen.
Como os videogames podem ajudar na Educação?
Os videogames combinam propriedades como áudio, vídeo e texto em um só lugar e apresentam esse conteúdo de um jeito diferente e interativo, rompendo limitações das formas tradicionais de mídia. Com isso, atraem pessoas que poderiam ter dificuldades ou desinteresse no aprendizado. O papel da tecnologia é fazer as coisas de uma forma mais rápida, inteligente e melhor.
E por que usá-los como uma ferramenta na sala de aula?
Faz sentido trabalhar em cima da familiaridade das crianças com os games, que são parte da cultura juvenil e reconhecidos como uma mídia importante para entrar em contato com os jovens. Mas é preciso cuidado para fazer com que não pensem que vai ser só diversão.
Há outras ressalvas?
Não se pode dar muito espaço. Os games facilitam o processo, mas os Professores não podem se deixar seduzir pelo que parece uma oportunidade óbvia, mas não é. Um jogo de ação baseado em fatos históricos, como a 2.ª Guerra, por exemplo, pode não dar tanta atenção a esse aspecto e priorizar outro ponto do enredo.
Educação e entretenimento podem andar lado a lado?
É importante entender que não há uma oposição natural entre games e o aprendizado. Um jogo é, em sua natureza, uma atividade de resolução de problemas, que faz o jogador evoluir conforme avança, motivando um maior engajamento da pessoa com suas ações e consequências. É perfeitamente possível fazer com que esse retorno constante seja educativo e se dê de forma divertida.
E quais são os principais obstáculos para usar os games?
Os aparelhos são muito caros e não há uma compreensão geral sobre como utilizá-los da melhor maneira na sala de aula. São barreiras que devem cair conforme computadores e jogos ganhem mais espaço nas Escolas. Mas isso deve levar mais tempo que esperamos.
Professores adotam jogos virtuais para ajudar alunos a conhecer novos esportes e, de quebra, driblar falta de recursos da escola

"Pessoal, hoje vamos trabalhar com o videogame", diz o Professor Daniel Veras a uma turma de 7.ª série da Escola Estadual Oscar Thompson, em São Paulo. É dia de Educação física e o aviso quebra a sonolência da primeira aula da manhã. O tema é atletismo e, em poucos minutos, os Alunos disparam perguntas sobre o peso do martelo, a distância viajada pelo dardo e recordes.

Tradicionalmente vistos como "rivais" da Escola, jogos digitais vêm se popularizando como uma ferramenta para Educadores e aliados das aulas de Educação física ao ajudar Alunos a conhecer novos esportes e, de quebra, driblar a falta de recursos para tratar de alguns conteúdos previstos no currículo Escolar. Embora com ressalvas, os benefícios são atestados por cientistas. O trabalho encontra respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que garante aos Professores liberdade didática.

Foi pesquisando métodos para aplicar conteúdos como saltos e arremessos do atletismo que Veras decidiu inovar - sem deixar as atividades em quadra e o conteúdo da apostila em segundo plano. "Se na Escola a gente não tem como vivenciar um salto em altura, arranjamos um jeito", explica. "Os Alunos não tinham noção de como funcionavam algumas modalidades e se empolgaram."

A ideia, esclarece Veras, era "suprir a necessidade de materiais e espaço" para aplicar o conteúdo, previsto na apostila, mas teve mais efeitos positivos. "O comportamento melhorou e percebi os Alunos mais confiantes."

No Colégio Maxwell, Escola particular da zona norte paulistana, o Professor Marcos Neves também tira proveito da familiaridade dos Alunos com videogames para trabalhar modalidades que vão do futebol de rua à capoeira. Os benefícios, segundo ele, vão muito além do aprendizado. "Alunos que antes se recusavam a participar das dinâmicas de exercícios físicos, mas usaram os jogos, mostraram-se mais sociáveis", observa.

Na Escola municipal Raimundo Correia, em São Miguel, na zona leste de São Paulo, o tae-kwon-do foi a porta de entrada dos videogames nas aulas do Professor Jorge Júnior. Praticante da arte marcial, ele deu início a um programa cujo conteúdo eram lutas. "Até Alunos que não participavam das atividades mostraram maior interesse", nota. "É algo da cultura juvenil, e se a Escola exclui essas tecnologias, fica mais distante dos Alunos."

Linguagem do Aluno. A ideia de introduzir games nas aulas se baseia em pesquisas que estudam a cultura como elemento que influencia o comportamento. Como os Professores têm liberdade pedagógica, a ideia é trazer elementos da vida dos jovens à Escola, explica Mario Nunes, um dos idealizadores do Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar da USP. Ele lembra que a Educação física não trata só do movimento, mas também de colocar jovens e crianças em contato com a teoria e os estudos dos exercícios e esportes.

O presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Steinhilber, concorda. "A Educação física é confundida com condicionamento e prática de exercícios físicos", diz, explicando que a disciplina não é uma iniciação esportiva, e sim uma "oportunidade para o Aluno vivenciar e compreender modalidades. A ferramenta usada vai de acordo com as possibilidades da Escola, da comunidade e do Professor".

Nunes, porém, alerta: "Os jogos não devem servir apenas como atrativo, e sim conservar o objetivo pedagógico, de debater e ensinar. Inserir um elemento desses no currículo não traz mudança se tiver apenas o objetivo de divertir os Alunos".

'Chocolate com brócolis.' Os Alunos não podem pensar na Escola como um local apenas de diversão, concorda a Professora Angela McFarlane, da Universidade de Bristol (Grã-Bretanha), autora do livro Use of Computer and Videogames in the Classroom ("O uso de computadores e videogames na sala de aula", em tradução livre).

Apesar de ser favorável à introdução de ferramentas tecnológicas na Educação, ela lembra que o aprendizado deve ser satisfatório - e não apenas divertido. "Aprender demanda tempo, concentração. É um processo que pode ser difícil, mas é como uma recompensa. O ideal é que a criança se sinta satisfeita com o que aprendeu e reconheça isso como algo relevante", analisa.

Como jogar é divertido - e aprender, nem sempre -, ela compara esse aspecto à "psicologia do brócolis com chocolate": se cobrirmos brócolis com chocolate a criança vai comer? Não, porque é ruim. Da mesma forma, os games atraem atenção e concentração das crianças - mas, se mal utilizados, podem não provocar um aprendizado satisfatório, sem resultados efetivos.

Apesar das ressalvas, Angela concorda que jogos e computadores são aliados da Educação. No quesito interatividade, ela crê que "não há nada como um videogame" e diz que há evidências de que alguns jogos desenvolvem determinadas habilidades e a capacidade das crianças de resolver problemas.

Mas a Professora acredita que o aprendizado é maior quando os Alunos são criadores de conteúdos digitais, e não apenas consumidores. "O ideal é envolver os Alunos no processo de criação, pois isso os ajuda a explicar sua própria compreensão do mundo e usar isso como meio para compartilhar suas ideias."

'É como se fosse uma aula prática'
"Da primeira vez que o Professor propôs usar o videogame, achei que fôssemos só brincar. Mas quando jogamos mesmo, deu pra sentir o impacto que ele tentou provocar. Aprendemos como fazer os movimentos para lançamentos e saltos do atletismo, quais eram as regras, o que pode e o que não pode fazer. É como se fosse uma aula prática, com a diferença que antes a gente observa e ganha uma base para depois fazer na quadra.

A turma acha divertido e gosta porque não é a mesma aula de sempre, com o Professor falando o tempo todo. A gente aprende com os livros e com as explicações, mas na Educação física temos de ter essa parte prática também.

Na Escola, conforme vamos jogando, o Professor explica o que está acontecendo na tela. Quando a gente joga em casa, acaba não prestando atenção nessas coisas.

Seria legal se Professores de outras matérias começassem a dar aulas assim. Nem todos participam, mas acho que ajuda bastante, porque estamos prestando atenção e isso ajuda a memorizar."

'Não há oposição entre games e aprendizado'
Educação e entretenimento podem sim caminhar juntos, segundo o pesquisador dinamarquês Simon Egenfeldt-Nielsen, da Universidade de Tecnologia da Informação de Copenhague e autor do livro Educational Potential of Video Games ("Potencial educacional dos videogames", em tradução livre). Ele defende o uso dos videogames como uma ferramenta para melhorar o aprendizado, mas alerta: "Deve-se ter o cuidado de mostrar que não se trata apenas de diversão", diz Egenfeldt-Nielsen.

Como os videogames podem ajudar na Educação?
Os videogames combinam propriedades como áudio, vídeo e texto em um só lugar e apresentam esse conteúdo de um jeito diferente e interativo, rompendo limitações das formas tradicionais de mídia. Com isso, atraem pessoas que poderiam ter dificuldades ou desinteresse no aprendizado. O papel da tecnologia é fazer as coisas de uma forma mais rápida, inteligente e melhor.

E por que usá-los como uma ferramenta na sala de aula?
Faz sentido trabalhar em cima da familiaridade das crianças com os games, que são parte da cultura juvenil e reconhecidos como uma mídia importante para entrar em contato com os jovens. Mas é preciso cuidado para fazer com que não pensem que vai ser só diversão.

Há outras ressalvas?
Não se pode dar muito espaço. Os games facilitam o processo, mas os Professores não podem se deixar seduzir pelo que parece uma oportunidade óbvia, mas não é. Um jogo de ação baseado em fatos históricos, como a 2.ª Guerra, por exemplo, pode não dar tanta atenção a esse aspecto e priorizar outro ponto do enredo.

Educação e entretenimento podem andar lado a lado?
É importante entender que não há uma oposição natural entre games e o aprendizado. Um jogo é, em sua natureza, uma atividade de resolução de problemas, que faz o jogador evoluir conforme avança, motivando um maior engajamento da pessoa com suas ações e consequências. É perfeitamente possível fazer com que esse retorno constante seja educativo e se dê de forma divertida.

E quais são os principais obstáculos para usar os games?
Os aparelhos são muito caros e não há uma compreensão geral sobre como utilizá-los da melhor maneira na sala de aula. São barreiras que devem cair conforme computadores e jogos ganhem mais espaço nas Escolas. Mas isso deve levar mais tempo que esperamos. 

Fonte: Estadão

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